o nosso amigo Jacinto

BRM200Gerês #14

Há coisa de cinco anos, enquanto escalava o primeiro prémio de montanha das minhas pedaladas matinais, as habituais para o trabalho, já perto do Carvalhido o sonoro dling-dlong e a saudação do Jacinto eram rotineiros. “Bom dia amigo Paulo“. Depois, até à Boavista, seguíamos juntos e a conversa ficava em dia. Entretanto deram-lhe a reforma, mas o Jacinto não se aposentou das pedaladas. Só a minha rotineira pedalada matinal é que passou a ser em modo solitário. Ele agora tem disponibilidade para fazer aquilo que mais gosta, passear nas suas bicicletas. Os nossos encontros na rua tornaram-se mais ocasionais, mas os longos percursos na estrada continuam a bom ritmo. Juntos nas nossas bicicletas já vivemos muitas e boas peripécias, largas centenas de quilómetros pelas estradas de Portugal, até na Galiza, e este jovem rapaz perto das setenta primaveras pedala que é um regalo! Para o acompanhar tenho de suar as estopinhas.

O nosso amigo Jacinto é um alento para todos. É com um contagiante sorriso e permanente boa disposição, com muito suor à mistura, que ele consegue superar as adversidades, transformando a sua alegria num exemplo e incentivo para os preguiçosos de plantão. Demonstra a muito boa gente o que é ser campeão. Se não atingir a média superior a mil quilómetros por mês, pedalando os seus três amores, a Branquinha, a Morena ou o Negrão, ele “faz birra”.

O seu exemplo remete-nos a sentimentos ligados à infância, a um prazer simples e inestimável, pois o acto de andar de bicicleta não tem idade nem preconceitos. Ao contrário do que já lhe disseram variadas vezes, o Jacinto não tem idade para ter juízo. No início do mês superou outra aventura, com mais de duzentos quilómetros e bastante montanha lá pelo meio. Amanhã o Jacinto tem novo desafio para somar às suas conquistas.

Relembro o comentário que me deixou num post antiguinho:

“Eu adoro andar de bicicleta. Quando eu saí da escola isto nos anos 60, eu tinha os meus 17 anos e a prenda da minha mãe foi uma bicicleta, eu quase dormia com ela, na altura morava em Lisboa, e vinha ali para o Campo Grande onde tinha umas grandes pistas para eu andar. É verdade, belos tempos em que as nossas mães nos grandes presentes era a bicicleta a prenda nº 1. Hoje reparo que a maioria das mães o presente nº 1 é oferecer um carro. Tenho um amigo meu que ofereceu ao seu filho por ele passar o 12º ano um carro, para que seu filho vá agora para o instituto de mercedes, sim tinha que ser um mercedes para as miúdas verem. Enfim… obrigado mãe por me teres dado uma bicicleta.”

Quando crescer quero ser com’ó Jacinto.

BRM200Gerês #6

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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2 respostas a o nosso amigo Jacinto

  1. Nelson Branco diz:

    Um grande exemplo e uma inspiração…

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  2. Pingback: não, ainda não é a minha pré reforma! | na bicicleta

apenas pedalar ao nosso ritmo.