Há coisa de cinco anos, enquanto escalava o primeiro prémio de montanha das minhas pedaladas matinais, as habituais para o trabalho, já perto do Carvalhido o sonoro dling-dlong e a saudação do Jacinto eram rotineiros. “Bom dia amigo Paulo“. Depois, até à Boavista, seguíamos juntos e a conversa ficava em dia. Entretanto deram-lhe a reforma, mas o Jacinto não se aposentou das pedaladas. Só a minha rotineira pedalada matinal é que passou a ser em modo solitário. Ele agora tem disponibilidade para fazer aquilo que mais gosta, passear nas suas bicicletas. Os nossos encontros na rua tornaram-se mais ocasionais, mas os longos percursos na estrada continuam a bom ritmo. Juntos nas nossas bicicletas já vivemos muitas e boas peripécias, largas centenas de quilómetros pelas estradas de Portugal, até na Galiza, e este jovem rapaz perto das setenta primaveras pedala que é um regalo! Para o acompanhar tenho de suar as estopinhas.
O nosso amigo Jacinto é um alento para todos. É com um contagiante sorriso e permanente boa disposição, com muito suor à mistura, que ele consegue superar as adversidades, transformando a sua alegria num exemplo e incentivo para os preguiçosos de plantão. Demonstra a muito boa gente o que é ser campeão. Se não atingir a média superior a mil quilómetros por mês, pedalando os seus três amores, a Branquinha, a Morena ou o Negrão, ele “faz birra”.
O seu exemplo remete-nos a sentimentos ligados à infância, a um prazer simples e inestimável, pois o acto de andar de bicicleta não tem idade nem preconceitos. Ao contrário do que já lhe disseram variadas vezes, o Jacinto não tem idade para ter juízo. No início do mês superou outra aventura, com mais de duzentos quilómetros e bastante montanha lá pelo meio. Amanhã o Jacinto tem novo desafio para somar às suas conquistas.
Relembro o comentário que me deixou num post antiguinho:
“Eu adoro andar de bicicleta. Quando eu saí da escola isto nos anos 60, eu tinha os meus 17 anos e a prenda da minha mãe foi uma bicicleta, eu quase dormia com ela, na altura morava em Lisboa, e vinha ali para o Campo Grande onde tinha umas grandes pistas para eu andar. É verdade, belos tempos em que as nossas mães nos grandes presentes era a bicicleta a prenda nº 1. Hoje reparo que a maioria das mães o presente nº 1 é oferecer um carro. Tenho um amigo meu que ofereceu ao seu filho por ele passar o 12º ano um carro, para que seu filho vá agora para o instituto de mercedes, sim tinha que ser um mercedes para as miúdas verem. Enfim… obrigado mãe por me teres dado uma bicicleta.”
Quando crescer quero ser com’ó Jacinto.
Um grande exemplo e uma inspiração…
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