prazeres simples

Há coisa de cinco anos, quando o digníssimo proprietário da velha, afamada e, provavelmente, a mais antiga casa de bicicletas do Porto, Velo Invicta Capas Peneda, mestre Barbosa me apresentou este quadro de aço Reynolds 531 com forqueta Vitus 888 a condizer, logo percebi o que iria fazer com ele. Mantê-lo simples e elegante, sem frescuras. Na minha mente, queria uma bicicleta clássica para levá-la comigo a qualquer lado, desde que fosse por vias aplanadas. Nela iria desfrutar a liberdade singular da velocidade única, à moda antiga, uma espécie de regresso às origens, para o que realmente importa, dar umas voltas.

Para que o projecto ganhasse forma precisava de mais qualquer coisa. Devo agradecer a ajuda prestimosa, tanto do mestre Barbosa como do amigo Luís Silva, perito em desenrascar perfeitas raridades. Aos poucos fui juntando algum material NOS necessário para me servir os intentos: as rodas, os travões, o guiador… Depois, pensando em acomodar bem as nádegas e, deixando-me levar pelas tendências da moda, investi num selim Brooks, bem como na fitinha de guiador do mesmo fabricante, para fazer pendant e lhe dar aquele toque vintage cycle chic. Da novel loja dos duendes das bicicletas bonitas veio também importada a transmissão singlespeed para me dar cabo das pernocas.

Reunidos os ingredientes, numa noite de copos, ao relento no pátio da Praça Filipa de Lencastre, em pleno centro da movida tripeira, a menina saiu finalmente do forno. Batizada de Sua Alteza, é uma bicicleta de linhas simples e construção graciosa, bem vestida no seu azul turquesa. Ostenta vaidosa uma das marcas simbólicas da mui nobre e invicta loja de bicicletas. Mesmo que sem aquele carisma de velha oficina carcomida pelo tempo, mantém vivo o espírito da velocipedia tripeira. As cicatrizes que entretanto Sua Alteza juntou às que já trazia têm mais beleza e carácter do que uma superfície perfeitamente impecável.

Muitas peripécias vivemos juntos nestes cinco aninhos que entretanto passaram a voar. Assim de repente, recordo o meu primeiro Brevet Randonneur Mondial. Ahhh, antes disso lembro-me de a ter levado em longas pedaladas, num pelotão casual por um doce roteiro. – “E aquela manhã em que a levaste para pedalar junto com o nosso campeão Rui Costa?” Ah, pois foi! E olha que não foi há muito que com ela passei um belo dia a solo e a levei a passear  num lugar especial. Sua Alteza está hoje de parabéns e teve direito a todas as mordomias, inclusive ser levada ao colo!

E bib’o luxo!

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Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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5 respostas a prazeres simples

  1. Nelson Branco diz:

    É linda “simsinhore” e merece esses cuidados e mimos!

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  2. paulofski diz:

    obrigados, Sua Alteza agradece

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  3. É bonita, lá isso é mas… e isto é um grande mas, quando se apanha uma subida mais rija, que é o que não falta por aí, o que é que se faz?… Desmonta e segue a pé?… Eu cá, não me meto nisso. Claro que, em gostando, nada a dizer… Boas voltas!

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  4. paulofski diz:

    😀 isso depende da subida. Se a inclinação não for a main aconselhável (p/ exemplo a Rua D. Pedro V) junto o útil ao agradável e dou uma volta maior (p/ exemplo vou pela Av. Boavista ou pelo Parque da Cidade).
    Obrigado.

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  5. Pingback: mais uma rodada | na bicicleta

apenas pedalar ao nosso ritmo.

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