roteiro pela doçaria minhota

os 7 glutões

Depois de uma semana em que todos os dias ia espreitando sites de meteorologia, em busca de novidades solarengas para esta nossa pedalada até Viana do Castelo, acabamos por ser brindados por um sol convidativo, fresquinho q.b. e sem vento. Um Domingo mais que perfeito. Desta vez comparecemos 7, o Jacinto (à falta do boneco linko a Branquinha), o Fernando, o Levi, o Ricardo Cruz, o Sérgio, o Ricardo Cardoso e este que vos escreve. Biclas para todos os gostos, randoneira, bêtetês, estradeiras, old school e single speed, todas elas se portaram como guerreiras nos quase 140 quilómetros pedalados.

Sua Alteza em acção

velocultura

Principalmente se estiver em boa companhia, mesmo com carros a surgirem de todos os lados, alguns, muitos, que fogem às portagens da A28, pode ser bem emocionante pedalar ao longo da Nacional 13. Com pressa, engarrafado atrás de um volante, não me parece que se tire o melhor proveito do passeio. A girar os pedais é como sobrevoar sobre aquilo tudo, com o sentido contemplativo do mar, apreciando a paisagem, observando a simplicidade do campo, as inúmeras bancas de produtos da terra à beira da estrada, o cheiro da terra e do estrume, a música badalada dos sinos das igrejas, um mix de portugalidade. Não esquecendo a romaria de ciclistas domingueiros na contracorrente em pelotões coloridos. Com entusiasmo, quando conferimos a vida tranquila do ciclista camponês. Dois exemplos: na ida, a Dona Maria que segurava a pasteleira na berma enquanto coscuvilhava a vida com uma amiga oriunda da missa; na vinda, no breu da noite, vislumbramos o Ti Manel que tinha parado de pedalar para cumprimentar um vizinho. O epíteto dado às personagens é pura imaginação, a bicicleta e o ciclista são puras realidades.

  556925_4411390675451_2026216348_n            a fotografar o pastel

Se bem me lembro, o objectivo a atingir era a pastelaria Natário e as suas primorosas bolas de Berlim, mas lá pelo meio da jornada fomos obrigados a parar em Fão, não que não coubéssemos na ponte mas era impossivel resistir a uma barrigada de Clarinhas mesmo acabadinhas de sair do forno. Depois de consolados com três gulosas rodadas, saímos de lá revigorados, também na barriga das pernas, e com a promessa pessoal de na volta parar para levar um pack do tradicional doce para casa.

a Clarinha

ai se isto andasse!

Alguns quilómetros, e cavalinhos do Levi, mais à frente, na localidade de Belinho, avistamos uma… bicicoisa, algo entre uma tallbike, um triciclo e um tandem, amarelo enferrujado, estacionado no pátio do café O Lampião. O Sérgio, que ia tão embalado na pedalada, talvez a pensar no creme das bolas, não parou. A determinada altura lá se sentiu abandonado à sorte e deu meia volta para ver o que estávamos a tramar. Pois quase que perdia a oportunidade de conhecer uma espécie de museu, verdadeira caixa de surpresas com muitas velharias penduradas nas paredes e no tecto, relíquias do ciclismo e um santuário dedicado ao grande FêCêPê! É que para uma casa de pasto trajada na cor do campeão, ter aquele nome tão, tão…  sui generis, vá lá, a nossa saída de cena só poderia ser acompanhada de uma gargalhada geral!

 Yellow Jersey Armstrong       ciclo coisas clássicas

Depois de provar tão inesperado e variado cardápio de emoções, foi um tirinho até Viana, ou quase! É que antes de rolarmos pela ponte Eiffel, o Jacinto desviou-nos para um rodízio extra de sabores e calorias. Afinal, o objectivo estava quase alcançado mas os estômagos não iam aguentar tão longa espera pelas gulodices. Só às 16 horas saia a primeira fornada de bolas de Berlim quentinhas na Natário. E à hora marcada lá estávamos a amarrar as burras à porta da pastelaria. Meus amigos,  só vos digo, aquelas bolas são divinais… mornas, com creme a sair pela boca… ai Santa Luzia!!! Mas para os que não as querem ferrar, ali o difícil é mesmo a escolha. Pode ser um manjerico ou uma torta de Viana, uma princesa do Lima ou um sidónio!…

rodízio de biclas

ahhhhh...

Adoçados e fartos, não fosse a incerteza quanto à possibilidade de regressarmos todos no mesmo comboio, caso houvesse comboio, teríamos seguido a sugestão do Ricardo e estender a pedalada até Caminha. Mas não, em vez disso aproveitamos a luminosidade do final de tarde e encetamos a todo o gás o regresso ao Porto. Foi sempre a abrir e à custa da roda livre da Alteza as minhas pernas latejavam nas subidas mas aligeiravam nas descidas e no plaino da via. Num piscar de luzes estávamos de novo parados em Fão, não só pela promessa feita à ida mas também para atenuar o fôlego geral. Aí decidimos que na Póvoa iriamos encurtar a pedalada e aproveitar a boleia do Metro até à Invicta. Com as biclas ajeitadas no espaço disponível, as 7 cansadas e muito felizes personagens deste roteiro da doçaria minhota, por rotas dos vinhos verdes, e um copinho naquela altura sabia que nem ginjas, até mesmo para afugentar o frio, lá se instalaram no aconchegante veículo que os reconduziu ao Porto.

Natário

O resto da viagem foi tranquilo, com muita conversa dos acontecimentos do dia, do incrível dia que Dezembro nos brindou, das novas pedaladas desejadas e novos rumos traçados. Ninguém sentiu o tempo passar. Foi um passeiozeco a Viana tanto pela gulodice como pelo simples prazer de pedalar. Valeu meus amigos pela excelente aventura gastronómica.

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Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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4 respostas a roteiro pela doçaria minhota

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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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