rafeiros vs ciclistas

Já aqui contei alguns episódios dos meus encontros imediatos com criaturas dentuças, o da velha Sheila do cais da Ribeira, e o de um outro, o pulguento da vizinhança que afinal só queria brincadeira. Por qualquer razão, alguns cães não se dão lá muito bem com os ciclistas. Topam uma bicicleta ao longe, que vai ou não na sua direcção, e desatam logo a ladrar e a rosnar, perseguindo os afoitos ciclistas. Talvez seja apenas para sacudir as pulgas, talvez porque que lhes apetece coçar os caninos num rechonchudo tornozelo (pelo sim e pelo não, o melhor é não depilar as pernas!), talvez porque se sentem intimidados pela bicicleta, o certo é que há cães que não combinam com as bicicletas. Posso dizer até já possuir alguma experiência na temática “como escapar aos pulguentos”, mas, até ver, só um me deitou ao chão.

O Jacinto e o jeco

Ontem, durante o seu treino/passeio, o meu amigo Jacinto apanhou um valente susto provocado por um desses vira-latas eriçados que estava de atalaia na borda da estrada. A câmara de bordo da sua bicla apanhou o jeco em flagrante delito. O cão aparece do nada, não ligando patavina ao Rui, que ia à frente e,  surgindo de súbito ao lado do Jacinto, deixando o nosso amigo gelado e com as pernas a tremer. Felizmente, teve a frieza de manter o seu equilíbrio, não se desviando para a faixa contrária, onde havia circulação automóvel no sentido contrário. Mais tarde, na sua página do facebook, o Jacinto publicou o vídeo e relembrou o acontecimento fatídico com o nosso Joaquim Agostinho, que sucumbiu num hospital dias após a queda provocada pelo atropelamento de um cão que se atravessou à sua frente, numa das etapas da Volta ao Algarve em 1984.

Caso algum cão danado se intrometa no nosso caminho, não demonstrar medo aos caninos é essencial. Se o cão surgir ameaçador na nossa direcção gritar com toda a força pode desmotivar o bicho, senão o melhor é parar. Desmontar da bicla intimida-os e já não mostram tanta coragem. Ladram um pouquinho e vão embora com o rabo entre as pernas, provavelmente a rosnar algo do género: “Olha, este não quer brincar!”. Mas caso os vadios sejam daqueles que não desistem facilmente e exibem os caninos bem pertinho do nosso tornozelo, então só nos resta dar às canetas, antecipar uma vigorosa pedalada, sacar do bidon e esguichar um pouco de água no focinho, na esperança de os ver ficar para trás.

Volto a lembrar, eu tenho cá esta teoria que poderá explicar a mania dos cães correrem atrás das bicicletas: Cá para mim, o que os move são os ciúmes, porque em todo o caso a bicicleta rivaliza com eles, na qualidade de melhor amiga do homem!

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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10 respostas a rafeiros vs ciclistas

  1. Francisco Bruto da Costa diz:

    Gostei do texto, que reflecte algumas preocupações que já tive com a bike e os canídeos.
    Se me permite, coloco no FB um link para este texto.
    Um abraço,
    FBC

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  2. paulofski diz:

    Sim, com certeza
    Grato pelo comentário
    Um abraço

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  3. João L. diz:

    Sou um estudioso do assunto, quer do ponto de vista prático, quer teórico. Tenho várias certezas e algumas teorias. Tenho um companheiro de pedaladas que quando um cão nos ladra ele grita-lhes e insulta-os de volta. Às vezes dá resultado mas é humilhante. Por outro lado, esta estratégia pode resultar com rafeiros mas de pastor alemão para cima a coisa complica-se.
    Portanto, e em síntese: usar um spray de capsisaina (princípio activo da pimenta) e apontar ao focinho do animal. Não é tóxico (é aprovado pela FDA para uso dos carteiros nos EUA, por ex) e é a forma mais eficaz e menos nociva para afastar o cão, evitando colocar-nos em risco (quedas, acidentes etc) . Já agora, eu próprio tenho um cão e defendo o bem estar dos animais.. Quanto à teoria, devido à rotação das rodas, o ar nos raios deve provocar um som com frequências que nós não ouvimos mas que irritam os cães.

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  4. João L. diz:

    “Capsaicina” e não “capsisaina” como erradamente referi em cima.

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  5. paulofski diz:

    Olá João, obrigado pelo teu comentário. No que diz respeito ao tamanho ou raça do animal, podes crer que os mais pequenos são bem piores, correm que se fartam e não desistem facilmente. Já tinha lido acerca do uso de spray, mas, a não ser talvez usado por carteiros na sua prática profissional, não me parece que quem anda de bicicleta esteja sempre munido de um spray anti-pulguentos. A garrafinha de água é bem mais comum, mesmo que esteja vazia e seja arremessada ao cão em última instância. Abraço

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  6. João L. diz:

    Caro Paulo,
    eu vi o spray aqui:
    http://allseasonscyclist.com/tag/pepper-spray/
    E as críticas que li no site do “all seasons cyclist” feitas por outros ciclistas convenceram-me a encomendá-lo. Curiosamente, e embora já tenha tido muitos problemas com cães, nunca o usei. No entanto, levo-o comigo frequentemente; até porque pedalo muitas vezes sózinho pelas serranias da zona centro do país. Pode servir de protecção contra javalis, ginetas etc
    abraço

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  7. Fernanda diz:

    “Quanto à teoria, devido à rotação das rodas, o ar nos raios deve provocar um som com frequências que nós não ouvimos mas que irritam os cães.” Duvido. Já vários cães me acompanharam alegremente em voltas de bicla. O meu cão acompanha-me com o walky dog e também solto e fica doido quando me vê equipada 😉 Acho que é mesmo a tendência de correr atrás de algo que se mexe.
    Já tive vários encontros com cães e nunca tive problema. Se eles não se fartam de ir atrás de mim o bidão de água e por ultimo a bicicleta entre eu e eles tem resolvido o assunto

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  8. João L. diz:

    Fernanda, era uma teoria tão elegante !
    Também sigo a tua táctica (fazer muro com a bike, água, fugir a sete pés, quer dizer pedaladas …). Até já a usei com um rottweiler e resultou (bom, às tantas chegou o dono e chamou-o) mas o spray (que nunca usei) pode ser muito útil numa emergência (quer para animais de quatro, quer de duas patas).

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  9. Uma Kalashnikov também é eficaz… embora os quatro quilos cansem um bocado as costas. Tenho andado pela Cova da Moura a tentar trocar a minha por uma Uzi mas parece que estão esgotadas.

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  10. paulofski diz:

    Essa sua sugestão não me parece muito suave. Sendo assim acho que vou me fazer acompanhar por um ou dois cães de guarda. Nunca se sabe!

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apenas pedalar ao nosso ritmo.