Por alguma razão, alguns cães nunca se deram lá muito bem com as bicicletas e têm a tendência para perseguir afoitos ciclistas. Talvez seja para sacudir as pulgas, como aventou um amigo, ou por ser a bicicleta algo ameaçadora para eles, o facto é que às vezes cães e bicicletas não combinam. Posso dizer até ter já alguma experiência em escapar aos pulguentos quando pedalo as minhas bicicletas, mas nem sempre com sucesso. Houve até um gangue que me emboscava sempre na mesma estrada, lá para os lados da Praia de Valadares. Assim que me pressentiam no faro ladravam-me e exibiam ameaçadores caninos, apenas me restando antecipar uma vigorosa pedalada na esperança de os ver ficar para trás, felizes talvez por mostrarem a sua audácia em enxotar o inimigo. E por incrível que pareça o pior dos três rafeiros era o mais pequeno! Bem, o ideal, na verdade o mais seguro, ao avistar-se um peludo à solta o melhor será abrandar a pedalada, parar e até desmontar da bicicleta, pois eles assim já não se mostram tão corajosos, ladram um pouquinho e vão embora, provavelmente a rosnar algo do género: “Olha, este não quer brincar!”. Mas desde aquele quase fatídico final de tarde, em que primeiro tive um encontro imediato com o lombo de um animal, e depois o impacto com os duros paralelos, que ao avistar um cão atravessar-se nas minhas pedaladas até as pernas me tremem. Como em muitas ruas, passeios, ciclovias, e caminhos xacobeos por entre milheirais (descobri-o recentemente à má fila de um boxer nervoso), muitas áreas urbanas são compartilhadas por pessoas que dão trela aos seus bobis. Caso os donos sejam responsáveis não correrei o risco de um cão solto se intrometer no meu caminho, e caso isso suceda eu terei todo o direito de resmungar com o irracional que o deixou fugir. No entanto, temos sempre de contar com muitos cães vadios e abandonados que proliferam nas nossas cidades que se aventuram contra nós. Nas estradas, isso acontece com alguma frequência, sendo uma boa estratégia a adoptar, para nos defendermos, ter sempre à mão o bidon com água para lhes refrescar os ânimos com uma esguichadela inofensiva no focinho. É certinho que a fera renuncia imediatamente os seus intentos caninos.
Ora, por estes dias, voltei a dar de caras com uma velha conhecida da Ribeira, a cadela Sheila. Está mais velha e pachorrenta, já não afugenta com o mesmo vigor quem ousa pedalar à frente do seu nariz. Ganhei-lhe respeito na tarde em que ela se abeirou de mim com um olhar pouco amistoso. Eu pedalava devagar e iniciava a subida do Cais da Ribeira para a ponte Luis I. Ao perceber os seus intentos o mais sensato seria apear-me, mas eis que a impetuosidade falou mais alto e segui em frente, acelerando o mais que pude, mas ocorreu o trivial. Ela em correria desenfreada na minha direcção e eu a pedalar na esperança de lhe escapar, só que surgiu a inesperada necessidade de travar a marcha e assim ofereci-lhe de mão beijada a oportunidade de me abocanhar a rechonchuda barriga da perna. Só não fiquei com uma mordida gravada na pele porque a bicha estava açaimada, mas que ela a saboreou disso não fiquei com a menor dúvida. Percebo que os cães agem por instinto, em autodefesa, mais ou menos legítima, só não entendo porque razão são largados soltos na via pública a atentar contra terceiros. Tenho uma teoria que poderá explicar os cães odiarem as bicicletas: Cá para mim o que os move são os ciúmes, porque em todo o caso a bicicleta rivaliza com eles na qualidade de melhor amiga do homem.
esta sem açaime ja me ferrou um pé… sempre que lá passo olho para ver se ela está na subida… hehehe nunca me deixou de ladrar sempre que lá está!
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