As cidades não têm facilitado o modo como aproveitamos o espaço e o tempo. O ritmo de vida tornou-se rápido, apressado, urgente. O espaço ficou apertado e as pessoas foram engolidas pela voracidade de um quotidiano cada vez mais competitivo. Os portuenses, como outros habitantes de muitas cidades do mundo inteiro, reclamam uma série de mudanças em várias áreas da sua vida: saúde, trabalho, educação, hábitos alimentares, entretenimento, mobilidade… E, em grande medida isso deve-se às “regras” impostas pela sociedade: comer rápido, trabalhar mais, ter um carro, etc. Será que já nos questionamos onde nos vai levar esse estilo de vida? Será uma visão utópica desejar um futuro e estilo de vida melhor? É possível trazer a mudança através do ciclismo urbano? É pois!
Lentamente, as metrópoles contemporâneas procuram soluções de transformação com implicações no desenvolvimento e na estrutura urbana, social e cultural. As propostas de mobilidade não motorizada que lentamente surgem, propõem uma mudança de hábitos dos habitantes. A poluição ambiental, o mau planeamento urbano, a deterioração do espaço, o aumento da circulação automóvel, são ameaças às suas justas pretensões. As vantagens da bicicleta como meio de transporte alternativo, regular, económico, ecológico e saudável, são imensas. É uma das formas de recuperar o bom ritmo da cidade, do civismo e boas maneiras, que caracterizam uma sociedade civilizada. A bicicleta é um elemento de união. Traz felicidade, exercita não só o corpo, mas também a mente. Resgata o espaço público e permite que milhares de pessoas, de todas as idades, possam apreciar as ruas da cidade, a sua arquitectura, seus parques e, ao mesmo tempo, reúne as famílias, os cidadãos e os turistas numa convivência saudável.
Mas para ser uma óptima opção e ajudar a mobilidade, a bicicleta pode exigir um pouco de dedicação. Pedalar todos os dias e ir para as ruas circular, espremido entre os veículos nas estreitas ruas, não é nada fácil. Eu percebo que é um pouco arriscado driblar o trânsito das grandes cidades, atendendo às várias dificuldades que se depara a um pretendente commuter: a falta de vias que sejam cicláveis, os obstáculos naturais, os elementos da natureza, a exigência física. Infelizmente são muito poucas as ruas que oferecem espaço dedicado ou reservado aos ciclistas, o que obriga a uma convivência por vezes atribulada entre todos. Basta avaliar e comparar o espaço que os automóveis ocupam nas cidades com o espaço utilizado pelos ciclistas. O grande problema é que as infra-estruturas dirigidas aos ciclistas não incentivam e não estimulam nem mesmo os ciclistas esporádicos a fazerem uso da bicicleta com maior intensidade, muito menos conseguem atrair os que utilizam outros meios de transporte.
Para que ocorra uma mudança significativa na mobilidade nas nossas cidades, seria necessário traçar metas ousadas para os próximos anos. Urge contribuir para recuperar a qualidade de vida urbana. Não é uma utopia, tanto que muitas cidades no mundo inteiro já o fizeram. Mas isso depende dos governos, de uma boa administração dos recursos existentes e das escolhas correctas por parte do poder camarário. Aí sim, saberemos que a mudança engrenou, que as cidades melhoraram e corrigiram o caminho, rumo a um progresso sadio. Mas sabemos a que velocidade essas mudanças ocorrem. Apesar de tudo, há mais gente a pedalar nas ruas e isso é de salutar. Devemos ocupar o nosso espaço, perder o medo, discutir se for o caso, viajar de bicicleta e aprender a respeitá-las no trânsito.