can´t miss [236] Crónicas do Sr. Ribeiro

Partilho porque faço minhas as palavras das Crónicas do Sr. Ribeiro

“Mea Culpa, Mea Culpa

Eu ciclista me confesso, Mea Culpa, Mea Culpa! Vou já deixar aqui, eu não paro nos semáforos de velocidade da marginal. Nem sequer hesito. Eu não os fechei, não paro. Ora pensem lá comigo. Estou de bicicleta, um veículo fininho onde o pára-choques sou eu, vou arriscar parar num semáforo onde há uma larga percentagem de carros que não o fazem? E se um deles vem distraído ou furioso a ultrapassar pela direita o marreta que fechou o semáforo? Ele vê-me? E vai conseguir parar? Não arrisco. Não paro. Podem mandar a multa para minha casa.

Também vou já adiantar que só deixo peões passarem nas passadeiras se os tiver visto à distância.Os que aparecem mais em cima, ou que estão escondidos por carros, peço desculpa e sigo. Uma vez mais, estou com os pés presos, se eu travar de repente, a probabilidade de cair, no meu caso que sou nabo, é de 80%, no caso de um craque é de 30%. Acresce que as bicicletas, por melhor que sejam, ainda não têm abs, nem aquele sistema anti derrapagem, normalmente, uma travagem muito brusca implica um mínimo de perda de controlo. O resultado potencial é eu espetar-me e levar o peão comigo. Prefiro o insulto. Podem mandar a multa lá para casa.

Mais… Ah! Nas rotundas, quando há duas faixas, normalmente entro assim que tenho espaço e circulo bem por fora, escondido. (a circulação pela direita é em cumprimento do artigo 14-A n.º 2 do Código da Estrada) Aqui são várias as questões, o medo que o carro atrás de mim não trave na entrada da rotunda e a ausência de destreza com os pés e tirá-los dos pedais, etc. Já sabem, vivo tranquilo com isso, é só enviar a multa.

Por fim, quando paro nos semáforos arranco sempre antes do verde. Logo que o semáforo da intersecção fecha, eu vejo se não vem ninguém e arranco. É mesmo uma questão de segurança. Primeiro, é perigoso, como já expliquei estar parado num semáforo numa bicicleta. Segundo, dá-me tempo para arrancar e encaixar nos pedais antes que o carro atrás de mim arranque nas minhas costas e me aperte para passar. Siga, multa lá para casa.

Estes são os ilícitos que eu cometo e que podem irritar os automobilistas, vivo tranquilo com isso.Quais é que não cometo (porque não são ilícitos)?
1 – Andar fora das ciclovias Raramente uso ciclovias, são estreitas, normalmente em mau estado e cheias de peões. Acresce que a lei não obriga – artigo 78.º, n.º 1 do Código da Estrada:
“Quando existam pistas especialmente destinadas a animais ou veículos de certas espécies, o trânsito destes deve fazer-se preferencialmente por aquelas pistas”. Preferencialmente significa que não é obrigatório. Ou seja, ando quando sinto que é mais seguro, se não for, não ando. Escusam de mandar para lá, não vou.

2 – Andar sem estar encostado à berma O artigo 90.º do Código da Estrada é claro:
“Os condutores de velocípedes devem transitar pelo lado direito da via de trânsito, conservando das bermas ou passeios uma distância suficiente que permita evitar acidentes.” Eu conservo esse espaço, por causa de valetas, tampas de esgoto, e buracos – mais habituais nas bermas. Acresce que se for uma via de só uma faixa, com traço contínuo, os carros não me podem ultrapassar, por isso e para me proteger ocupo o meio da faixa.
Porque não me podem ultrapassar? Eu explico. Ora, imaginemos uma faixa de rodagem. Qual a sua largura? Vamos dizer 3 metros. Eu vou a cerca de 50 cms da berma, para evitar as tais valetas, etc., tenho mais de 40 cms de largura de ombros, sobrando 2 metros até ao dito traço contínuo. Como o artigo 38.º, n.º1 e do Código da Estrada exige “Na ultrapassagem de velocípedes ou à passagem de peões que circulem ou se encontrem na berma, guarda a distância lateral mínima de 1,5 m e abranda a velocidade”. Assim, a não ser que o carro que me ultrapassa tenha apenas 50cm de largura, não é possível ultrapassar-me numa faixa com traço contínuo. Como, normalmente, quando o fazem, acabo eu a ser empurrado para a berma, vou logo no meio da faixa para evitar essa situação.

3 – Andar a dois na faixa. Esta é das que mais irrita os automóveis, mas atentem para o artigo 90.º, n.º 2 do Código da Estrada:
“Os velocípedes podem circular paralelamente numa via, exceto em vias com reduzida visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito, desde que não circulem em paralelo mais que dois velocípedes e tal não cause perigo ou embaraço ao trânsito.”. Vamos a isto.Podem andar a dois é o princípio. Excepto: 
1 – vias com reduzida visibilidade –  concordo e quando ando de bicicleta, chegando a estradas com pouca visibilidade, eu acelero sempre ou deixo ficar para trás para ir sozinho. Trata-se de prudência e segurança – acresce que é normal, nestas vias, ser ultrapassado por um selvagem que sem ver anda a mil à hora. Prefiro sempre não arriscar a ter razão.
2 – sempre que exista intensidade de trânsito – não compreendo, a utilização de um conceito vago e indeterminado não devia ser aceite em termos legais, menos ainda numa questão de segurança. Muita intensidade? Pouca intensidade? Intensidade são quantos carros? São carros parados? Marcha lenta?
Aqui vai ter de imperar o bom senso. Uma vez mais, muitas vezes em filas de trânsito, opto por não partir as duas filas, por uma questão de maior visibilidade. Filas de trânsito significam, quase sempre, manobras bruscas, e uma bicicleta facilmente cai num ângulo morto. Gramava que esta questão fosse de alguma forma melhor contextualizada.
3 – desde que não circulem em paralelo mais que dois velocípedes – aceito. Até porque aqui, no limite, impossibilitaria, sempre a ultrapassagem, porque seria 50cms da berma, mais 50cm do primeiro ciclista, 1,5m de distância, 50cm do segundo ciclista, 1,5 de distância, 50 cms do terceiro, quando chegássemos à distância de segurança de ultrapassagem estaríamos a levar com um carro em cima.
4 – tal não cause perigo ou embaraço ao trânsito – claro que sim, mas com atenção a uma dúvida que tenho. Imaginemos um pelotão grande, são 40 ciclistas, vão paralelos, tranquilos, fica um pelotão de 20 de comprimento. Reduz a uma faixa, mas dá para ultrapassar, por isso seria o sítio para encaixar um a um.  Mas é mais fácil e seguro ultrapassar 40 em comprimento ou 20? Não tenho resposta, nestas situações tenho só medo. E, para já, são estas as questões que me lembro. No fim do dia, só gostava que não me fizessem tantas razias. Eu não vou andar de bicicleta para chatear automobilistas, juro que não. Encosto sempre que posso, e até sinalizo, quando tenho melhor visibilidade, quando já fica seguro ultrapassar. Agradeço sempre que percebo que esperam para não me apertar.

Por favor, não me matem por causa das minhas transgressões, além de as ter explicado, prendem-se com segurança, acho que não é proporcional

“Usas lycra e arrancas antes do verde, vou mas é passar-te por cima!!””

fonte: https://www.facebook.com/share/p/N44vfTZ8Zb3pPCVx/?mibextid=K35XfP

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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Uma resposta a can´t miss [236] Crónicas do Sr. Ribeiro

  1. Anónimo diz:

    EXCELENTE!!!

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apenas pedalar ao nosso ritmo.