A manhã de Sábado acordou fresca. Olho para cima e um céu pardacento e carrancudo me cumprimenta. Ultimamente não tenho pedalado para longe o suficiente, assim o convite do Jacinto para ir almoçar a Moledo, onde está a passar as suas férias, fez-me crescer água na boca para uma boa voltinha a pedais. No planeamento do dia, reservei a corriqueira estrada nacional 13 para o regresso, numa de aproveitar as rabanadas da Nortada. Para a etapa da ida, pensei num percurso mais tranquilo e bucólico por belas estradas interiores.
A EN306 tem sido a estrada de eleição para as minhas incursões a norte. Peregrinos, rebanhos, belas paisagens e os aromas da ruralidade, um harmonioso quadro mesmo às portas da urbe. Depois de passar pelo centro de Barcelos, à saída da cidade, e um bocadinho ao engano, meto-me pela EN103. Maldita a hora. Tive galo! Achando que por ali atalhava caminho para Viana do Castelo, assim que pude e no primeiro cruzamento saí daquele inferno rodoviário. Mesmo na larga berma daquela via-rápida não me sentia seguro com carros a passar a 100 à hora rente às orelhas. Percebi que ao retorceder iria perder algum tempo, mas era bem melhor ir à procura da conhecida e pacata EN204 que me iria levar até às margens do Lima.
A atmosfera gelatinosa e amorfa davam-me o primeiro vislumbre de tempestade, mas felizmente não passou de uns ameaços. Apenas umas grossas gotas de chuva, que caiam frias no meu cachaço, convidavam-me a aligeirar o progresso das minhas rodas mas, vai daí, decidi parar e entrar na primeira pastelaria que apareceu. Recomeço lento, inspiro e os pulmões enchem-se de ar húmido. O que sobe depois desce e, em pouco tempo, chego à EN203 para rodar a poente. Os primeiros raios do astro rei são bem vindos. Mais à frente atravesso o Lima pela ponte de Lanheses e sigo então pela bela e interessante EN305, contornando a Serra d’Agra em direcção a Vila Praia de Âncora. O céu abre definitivamente e deixa passar um sol quentinho. A subida torna-se bem jeitosa e as gotas de suor escorrem-me pelo rosto. Na minha lenta cadência acabo a escalada do dia acompanhado pelo Rafael, um jovem bêtêtista com quem entabulo uma agradável conversa. Depois ele desviou e continuou a subir para os estradões da serra, enquanto, para mim, ficou reservada a saborosa descida até ao encontro da EN13, do mar e do Jacinto, que já vinha ao meu encontro.
Depois de uma, uma não, duas pratadas de esparguete com atum, à la Jacinto, e para melhor fazer a digestão, o meu velho amigo levou-me a conhecer a nova ciclovia marginal que liga a praia de Moledo a Vila Praia de Âncora. Definitivamente com as rodas no asfalto da nacional, e até à ponte Eiffel de Viana do Castelo, tive não só o prazer da sua companhia, bem como de um animado grupo de “ciclistas organizados” em despique com a Nortada. Feitas as despedidas, o Jacinto deu meia volta para o seu resort, enquanto lá continuei calmamente o meu caminho de regresso ao Porto, ou melhor, até Valadares, perdido em pensamentos mas sempre com os sentidos em alerta máximo ao excesso de tráfego e aos excessos dos que vinham a acelerar das praias. Como não poderia deixar de ser, e para manter os niveis de doçura apuradinhos, gastei meia hora do dia na fila da Pastelaria Fãozense para transportar no alforge uma caixa de clarinhas que a minha querida esposa tanto adora 🙂 Feitas as contas, a conta passou os duzentos e vinte quilómetros que foram muito bem aproveitados.
Aquele abraço Jacinto, foi um dia bem passado e bem divertido. Obrigado pela hospitalidade.
Belo passeio
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obrigado amigo
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