Há três anos, Rui Moreira, então candidato independente à Câmara Municipal do Porto, defendia na sua estratégia de mobilidade para o Porto o seguinte:
“Para resolver os obstáculos criados à circulação pedonal e de bicicletas devido à diferença de cotas na cidade, o candidato propõe a reativação do elevador da Arrábida e ainda a criação de duas ligações mecanizadas intermédias, uma entre a Alfândega e o Palácio de Cristal e outra entre as escadas do Codeçal e a ponte Luiz I.
Rui Moreira garante que estes dois novos elevadores são “muito simples e económicos”, tendo um orçamento global de 750 mil euros.”…
(extraído da notícia do DN: http://www.dn.pt/politica/interior/rui-moreira-apresenta-estrategia-de-mobilidade-para-o-porto-3372314.html)
Sem grandes novidades, pelo menos de lá para cá no que toca a acções concretas e “políticas promotoras de uma mobilidade urbana sustentável”. Efectivamente a CMP está a fazer um bom trabalho em muitas áreas mas não soube criar medidas de reduzir o grande fluxo de automóveis para dentro da cidade e criar incentivos à utilização outros meios de transporte. Para além da revolução que o Metro trouxe à área metropolitana, poucas intervenções realizadas traduziram apenas intenções de mudança. Como diz o ditado “de boas intenções está…” toda a gente sabe o resto. Até ver, pela mobilidade em bicicleta nada foi feito, apenas se concluiu as medíocres intervenções que estavam em execução.
Agora sai esta notícia:
“Câmara intervém em 40 ruas do Porto até ao final do ano
Problema mais recente, os conflitos de tráfego entre ciclistas e automóveis e peões levaram o município, por precaução, a não criar canais dedicados para bicicletas nas ruas a intervencionar, tendo em conta que, na maioria dos casos, se trata de eixos estruturantes, com muito movimento automóvel. Rui Moreira considera que a legislação deveria ser revista, pois o facto de as bicicletas não terem matrícula e os ciclistas não serem obrigados a ter seguro têm gerado problemas nalgumas situações, argumentou. E, perante isto, a Câmara do Porto não deverá abrir as faixas bus a este modo de transporte, como fez, com bons resultados, com os ciclomotores, assumiram.“
Por precaução, vou não levar a sério aquilo que li. Deixo um texto já por aqui publicado para educadamente dar a minha resposta a esta oportunidade perdida e contraditória:
A cidade pouco tem facilitado o modo como aproveitamos o espaço e o tempo. O ritmo urbano tornou-se rápido, apressado, urgente. O espaço foi ficando apertado, engolindo os portuenses pela voracidade de um quotidiano cada vez mais competitivo. Em grande medida, isso deve-se às “regras” impostas pela sociedade: comer rápido, trabalhar mais, ter um carro… Os portuenses reclamam uma série de mudanças em várias áreas da sua vida: saúde, trabalho, educação, mobilidade…. É possível um melhor estilo de vida através do ciclismo urbano? É pois!
Lentamente, as cidades procuram soluções de transformação social e cultural, modernização com implicações no desenvolvimento de infra-estruturas urbanas. As propostas de mobilidade não motorizada surgem e propõem uma mudança de hábitos. A poluição ambiental, o mau planeamento urbano, a deterioração do espaço, o aumento da circulação automóvel, são ameaças a essas pretensões. As vantagens da bicicleta como meio de transporte regular, alternativo, económico, ecológico e saudável, são imensas. É uma das formas de recuperar o bom ritmo da cidade, do tempo e espaço que escasseiam na sociedade. A bicicleta é um elemento de união. Traz agilidade, felicidade, resgata o espaço público para as pessoas e permite-lhes apreciar as ruas, a cidade, se deslocar para o trabalho e escola, ao mesmo tempo reúne famílias, os cidadãos e os turistas numa convivência saudável.
Mas para que seja uma opção e ajude na mobilidade, a bicicleta pode exigir um pouco de dedicação. Pedalar todos os dias e ir para as ruas circular, espremido entre os veículos nas estreitas ruas, não é nada fácil. Eu percebo que é um pouco arriscado driblar o trânsito das grandes cidades, atendendo às várias dificuldades que se depara a um pretendente commuter: a falta de vias que sejam cicláveis, os obstáculos naturais, os elementos da natureza, a exigência física. Infelizmente são muito poucas as ruas que oferecem espaço dedicado ou reservado aos ciclistas, o que obriga a uma convivência por vezes atribulada entre todos. Basta avaliar e comparar o espaço que os automóveis ocupam nas cidades com o espaço utilizado pelos ciclistas. O grande problema é que as infra-estruturas dirigidas aos ciclistas não incentivam e não estimulam nem mesmo os ciclistas esporádicos a fazerem uso da bicicleta com maior intensidade, muito menos conseguem atrair os que utilizam outros meios de transporte.
Para que ocorra uma mudança significativa na mobilidade nas nossas cidades, seria necessário traçar metas ousadas para os próximos anos. Urge contribuir para recuperar a qualidade de vida urbana. Não é uma utopia, tanto que muitas cidades no mundo inteiro já o fizeram. Mas isso depende dos governos, de uma boa administração dos recursos existentes e das escolhas correctas por parte do poder camarário. Aí sim, saberemos que a mudança engrenou, que as cidades melhoraram e corrigiram o caminho, rumo a um progresso sadio. Mas sabemos a que velocidade essas mudanças ocorrem. Apesar de tudo, há mais gente a pedalar nas ruas e isso é de salutar. Devemos ocupar o nosso espaço, perder o medo, discutir se for o caso, viajar de bicicleta e aprender a respeitá-las no trânsito.
Amanhã vai estar no CidadeMais 2016 pelo menos uma pessoa da CMP para ouvir o que se tem a dizer sobre Melhor Mobilidade, Mais Sustentabilidade.