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Ciclovias para acabar com o “primado” do carro

texto de Maria Lourenço, publicado a 4 de Agosto em www.porto24.pt

“A bicicleta ainda não é vista como um meio de transporte comum ou útil no dia a dia, como, por exemplo, os automóveis, apesar de serem cada vez mais os que a consideram indispensável para as suas deslocações diárias. Talvez seja por isso que a ‘bicla’ ainda encontra grandes obstáculos na cidade.

Miguel Barbot, proprietário das lojas de bicicletas Velo Culture, explica ao P24 que “o grande problema do Porto são os [seus] presidentes da Câmara”. “Qualquer cidade europeia desenvolvida faz mais pela mobilidade em bicicleta cá, pelo exemplo que dá às pessoas que viajam, do que a Câmara Municipal do Porto”, critica. “Cá está sempre na agenda, mas nunca acontece nada”, lamenta Barbot, acrescentando que “há 20 ou 30 anos” que não se verificam, nesta matéria, alterações significativas na Invicta.

Miguel Barbot, crítico do executivo anterior e do atual, explica que “não há um único projeto visível para a mobilidade em bicicleta” e observa que agora até “as motas podem usar as faixas do bus, mas as bicicletas não”.

É verdade que nos últimos anos surgiram novas ciclovias no Porto, mas essa medida nem sempre é solução para tornar a locomoção dos ciclistas mais segura ou confortável, garante Miguel Barbot. Para o ciclista urbano, a ciclovia deve ser o “último recurso”. “Não faz sentido ir na ciclovia” se se circular a 50 ou 60 km/h, como faz Miguel (isto dos 50 ou 60 quilómetros à hora nas ciclovias é, naturalmente, uma gralha…, emenda entretanto o Miguel) . Essa segurança e conforto passa, na sua opinião, mais pela forma como os automóveis circulam do que pela faixa onde rolam as bicicletas.

Para este ativista em prol de cidades mais amigas das pessoas, que chegou a ter um blogue dedicado a esta temática – ”Um pé no Porto e outro no pedal” –, “o mais urgente é acabar como o primado do automóvel”, pois “todas as políticas de mobilidade estão centradas no automóvel”. Miguel Barbot considera o carro um “luxo”, cuja “contrapartida” é o facto de “ser menos prático”, e, ao mesmo tempo, “uma arma”, cujas caraterísticas o tornam altamente perigoso – “tem duas toneladas e anda a 50 km/h”, explica. É necessário, na sua opinião, “limitar seriamente a utilização do automóvel e comunicar” melhor a mobilidade em bicicleta.

Já Ricardo Cruz, voluntário da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), diz que as subidas da Invicta são “um mito”. A maior dificuldade para quem quer andar de ‘bicla’ na cidade “não são as subidas”, assevera, “porque as bicicletas atuais permitem desmultiplicar muito as mudanças e tornar a pedalada muito leve”. A maior dificuldade, lamenta Ricardo Cruz, é “o civismo das pessoas”, ou antes, a falta dele.

“Ninguém nos ensinou a usar as ruas de uma forma comunitária. Quando estamos num automóvel ou quando somos peões achamos que temos direito a um espaço e que esse direito é absoluto, quando não é. É sempre relativo ao outro”, sublinha.

Reduzir a velocidade
A redução da velocidade dos automóveis é um ponto essencial para a locomoção segura dos ciclistas: “Tem que haver uma política muito mais forte de reduzir claramente as condições para o automóvel circular – os carros têm de andar mais devagar”, afirma Miguel Barbot. “Não faz sentido nenhum continuarmos a ter carros a 70 km/h no centro da cidade, nem a 50”, acrescenta o dono da Velo Culture.

Para Ricardo Cruz, a solução passa por uma intervenção “em termos de infraestrutura rodoviária” que obrigue à redução de velocidade por parte de quem circula em automóveis. Mas o responsável da MUBi explica que “não é fácil intervir na cidade sem mais nem menos”: “A nossa cultura instituída desde os anos 70 é utilizar o automóvel o mais possível e deixá-lo estacionado o mais perto possível do local onde nós estamos”.

Miguel Barbot acrescenta que é preciso haver “mais sinalização horizontal para as bicicletas, nomeadamente as bike boxes, em que as bicicletas podem chegar mais à frente de forma a arrancarem primeiro”, e fiscalização para impedir “asneiras” dos carros. “A cidade tem de estar desenhada de forma a que haja vias onde se possa circular mais rápido e outras mais lentas”, para que “os ciclistas possam ter sempre a opção de usar as vias mais lentas”, explica.

Para além de intervenções infraestruturais, Ricardo Cruz acredita ser possível “intervir em termos de cultura e civismo, através de bons exemplos e boas práticas”, mas salienta que para isso “é preciso coragem política”. O membro da MUBi acrescenta que é possível “instituir a cultura do respeito pelo outro, pelo mais frágil, pelo peão, pelo ciclista” através de “iniciativas como ações de formação nas escolas”. Barbot concorda: a instituição da cultura da bicicleta “é uma questão de política pública”.

“Se calhar há muita gente que utiliza o automóvel, mas gostava de não o utilizar”, atira Ricardo Cruz, que receia existir hoje uma imagem errada à volta da bicicleta que é preciso “desmistificar”. “Dar um contexto cultural, para tirar a ideia de que a bicicleta é apenas para crianças e para praticar desporto”, justifica. “A bicicleta também é um meio de locomoção banal”, assegura, afirmando que sente que a bicicleta como meio de transporte diário sofreu uma “evolução interessante” nos últimos três anos no Porto.

Ciclovias do Porto foram mal feitas
Há ciclovias perigosas na cidade, que precisam de uma intervenção urgente. É essa a convição de Miguel Barbot e Ricardo Cruz, dois ativistas do uso da bicicleta como meio de locomoção nas cidades. A ciclovia da avenida da Boavista, uma obra recente, é uma das vias dedicadas que merece a crítica de ambos.

Miguel Barbot assegura que, “para além de ser raro o dia em que se passa lá e não estão carros parados em cima, é uma ciclovia que tem erros”. O problema, explicou ao P24, está no facto de a ciclovia se encontrar entre o estacionamento e a estrada, o que pode levar a acidentes graves: “Se alguém abrir uma porta [do carro] de repente ou sair do estacionamento para cima da ciclovia, eu posso morrer ou posso matar alguém”. É uma ciclovia que, segundo o proprietário das lojas Velo Culture, “dá uma sensação de falsa segurança”.

Ricardo Cruz conta que a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi) já entrou em contacto com a Câmara do Porto várias vezes para alertar a autarquia para os perigos que a ciclovia da avenida da Boavista representa e diz que a vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, “ouviu, concordou” e fez algumas alterações, mas que a ciclovia continua inacabada. “Há uma série de questões que ficaram por fazer, como a sinalização vertical a indicar que é uma ciclovia”, exemplifica. O responsável da MUBi faz suas as palavras de Miguel Barbot: “Colocar uma ciclovia à beira de carros estacionados não é uma boa prática numa cidade e num país onde não há ainda uma cultura de bicicleta profunda e enraizada”.

Para Miguel Barbot, a ciclovia deveria ter sido feita “entre os carros e o passeio e nunca entre os carros e a estrada” e aponta que a solução para a ciclovia da avenida da Boavista seria retirá-la e fazer com que os automóveis circulassem a uma velocidade mais baixa. Ricardo Cruz concorda e acrescenta que “o ideal” seria “não fazer uma ciclovia segregada e colocar uns sinais no pavimento a indicar que podem andar ali ciclistas”. Eventualmente, continua, poderiam ser colocadas ali “plataformas elevatórias de modo a que quem vai de carro andasse mais devagar”.

O polo da Asprela da Universidade do Porto é também “um sítio muito grave”, atalha Ricardo Cruz. “Houve uma intervenção do antigo executivo. Fizeram uma série de ciclovias com uma largura ridícula de 50 cm e as boas práticas indicam que o confortável são 2 metros”, justifica. Um assunto sobre qual, diz, através da MUBi, ter igualmente contactado a Câmara do Porto, que até à data não interveio no local.

Ombros de fora
Miguel Barbot frisa que as ciclovias da Invicta “são terríveis”, pois “são mais estreitas do que os ombros do ciclista”, e dá outro mau exemplo: a ciclovia da avenida Brasil, na Foz do Douro. Esta via dedicada à bicicleta “tem atravessamentos de passadeira e tem obstáculos que limitam a visibilidade” e, como é “partilhada com os peões” e “está ao nível” destes, facilmente alguém passa por cima da ciclovia, podendo chocar com um ciclista.

Ao P24, a vereadora da Mobilidade da autarquia portuense afirmou que, relativamente à ciclovia da avenida da Boavista e à do polo da Asprela, seriam feitas alterações. Cristina Pimentel especificou, no entanto, que ainda não estava definida data para essas intervenções. A autarca acrescentou que as obras em curso na avenida da Boavista ainda não estavam concluídas e que “oportunamente” seriam tomadas medidas relativamente à ciclovia.

Na Invicta
A cidade do Porto tem atualmente 32 km de rede ciclável. Esta rede divide-se em 15 km de ciclovias e 17 km de canais cicláveis.

Matosinhos e Gaia
Em Matosinhos, há 12 km de ciclovias. A sua maioria situa-se na orla costeira do concelho, no entanto, está prevista a construção de mais 10 km de ciclovias “marcadamente urbanas”, como explicou ao P24 fonte oficial da Câmara Municipal de Matosinhos. Em Gaia, há cerca de 25 km de ciclovias. O troço mais recente é inaugurado precisamente hoje: entre o Cais de Quebrantões e o Areinho de Oliveira do Douro.”

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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