reciclando [11] o ciclista como agente de mudança

fisheye
Mudanças de hábitos raramente são súbitas. As coisas evoluem ao longo de um certo período de tempo, proporcional à intenção e adaptação pessoal para a mudança. Por outro lado, nem sempre é fácil aceitar a mudança. Mesmo assim, perceptíveis as transformações nas nossas rotinas numa retrospectiva prolongada, optamos pelas alternativas, planeamos o benefício, queremos o melhor para nós. Esta questão continua a assolar-me quando me deparo na estrada com quem desconhece e não tolera a mudança de regras à legislação rodoviária. Recentemente, e num curto espaço de tempo, vivi três experiências incómodas protagonizadas por quem não tolera os ciclistas na estrada. Inclusive em conversas na roda de amigos há sempre quem discorde com as novas regras, mas, meus senhores, o que importa é reforçar os direitos do ciclista, que de alguma forma ficaram mais protegidos.

on my back home
À medida que fui ficando mais velho, o papel desempenhado pelas minhas bicicletas comutaram a minha vida. Deixaram de ser apenas motivo de passeio e aventura para lugares inexplorados, tanto quanto as minhas pernas e pulmões me levariam e, com alguma maturidade à mistura, a bicicleta expandiu outros horizontes e me tornei fino o suficiente para a usar como meio de transporte. O que mudou? Durante a adolescência eu me sentia particularmente invencível. Era um mundo diferente. Naquela época, não eram necessárias tantas precauções. Hoje perde-se muito tempo a considerar questões de segurança relacionadas com o “andar de bicicleta”. Eu andava em todas as condições, chuva, sem luzes na escuridão, sem incidentes. Eu não tinha nenhuma preocupação, nem mesmo um reflector ou um capacete na cabeça. Nada de ruim me aconteceu. Na actual vida diária, não me sinto menos seguro do que fazia quando adolescente. Talvez o mundo seja menos seguro devido à quantidade de informação negativa que estamos constantemente a ser bombardeados através dos meios de comunicação. Acho que foram mais as mudanças doutrinais que levaram a um mundo inseguro. O que quer que tenha mudado tem a ver com o ciclismo? Acho que não. Tem a ver, isso sim, com a forma como se conduz. Tem a ver com a função das estradas, mais especificamente com a actual cultura de estrada que nos faz sentir menos seguros. Tem a ver com o trânsito motorizado onde o automóvel domina e o peão é absolutamente secundarizado. Tem a ver com o nosso mundo sempre em movimento, onde automobilistas sem tempo, peões e ciclistas entram numa corrida desenfreada para chegar a algum lugar.

assim, pedalar sem carros, só mesmo no mês de Agosto, quando todos estão de férias!

O cenário e os actores mudaram, porque, nos tempos modernos, a vida tem necessidade de vários movimentos. A presença de um ciclista na estrada torna-se pouco mais do que uma partícula numa paisagem em constante movimento. A presença de vários ciclistas torna-se mais explícita e o contexto muda. Talvez isso não signifique que a estrada fique mais segura, porque o ambiente em redor do volante tornou-se numa cacofonia de distracções desnecessárias. A presença de pessoas, de ciclistas, não pode ser ignorada, não pode ser vítima de automobilistas distraídos, apressados a acelerar contra o tempo, com os olhos semi-abertos a espreitar para o GPS ou entretidos com o smartphone. A mudança de regras pode significar a necessidade de simplificar a forma como fazemos as coisas. Identificar o que é fundamental na vida, como caminhar, andar de bicicleta, falar com as pessoas. Reduzir o nível de conectividade compulsiva durante a condução. Tornar a estrada um mundo menos atormentado, um espaço seguro, de partilha e responsabilidade.

cheiro de chuva
Em suma, o ciclismo provavelmente não mudará nada e o próprio mundo provavelmente não se tornará significativamente mais seguro com a mudança. Mas o contexto em que os vários utentes operam mudou e coloca os pratos da balança mais equitativos. A consciência dessas mudanças pode ajudar-nos a aumentar a nossa própria segurança, mas a consciência diz-nos também que não é suficiente. O ciclista como agente de mudança poderá ter um papel fundamental na educação sobre as questões culturais, demonstrar no local que todos os utentes deverão ser mais responsáveis e que é necessário induzir a mudança para evoluir a sociedade para melhor.

a humidade faz a força

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Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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