pare, escute e olhe

pare, escute e olhe

Os semáforos visam regular o fluxo do trânsito, garantir a segurança dos peões, controlar limites de velocidade. Tanto faz se vamos de carro, de bicicleta ou a pé, os riscos de incumprimento são claros e quem já apanhou um susto a sério sabe que sim. Tal como um transeunte, um automobilista, um ciclista que passe um vermelho num cruzamento sabe que se coloca em perigo, arriscando-se a levar com um carro em cima! Apesar da cidade ser perfeitamente ciclável, está sobretudo feita e regulada para o tráfego automóvel. Uma vez inseridos no car doom, os ciclistas terão sempre de cumprir as mesmas regras, mesmo que as julguem inadequadas às bicicletas. É ponto assente que quem anda na estrada tem obrigações e se o semáforo está vermelho, na bicicleta e no cumprimento da lei devemos parar.

Abundam no entanto vários estereótipos sobre os ciclistas. Chavão, cliché, estereótipo, qualquer que seja o palavrão, há um preconceito generalizado sobre este grupo social. A característica frequentemente mais depreciativa é de que todos os ciclistas são uns incumpridores, uns “fora-da-lei”! Ainda para mais, com a recente aprovação da Lei 72/2013, a que actualiza alguns artigos do CE, tenho lido nas redes sociais das coisas mais aberrantes e incompreensíveis de que os ciclistas são acusados. Algumas pessoas, automobilistas ou não, têm sobre nós uma espécie de fobia doentia. Não nos querem na estrada e vêem-nos como todas as coisas más, ora porque estamos no caminho, ora porque somos uns incumpridores, ora porque representamos uma mudança, o que para eles parece ser difícil de aceitar. E o exagero é norma. Todos os estereótipos impõem exagero, é um elemento chave do preconceito, e daí até generalizar a coisa é um instantinho.

Sinceramente, compreendo o porquê de alguém, só porque vai na bicicleta, não se sentir obrigado a parar perante um sinal vermelho! Até porque muitos dos semáforos instalados nas cidades estão lá mais para regular a velocidade dos veículos motorizados. O semáforo tornou-se o sinal vermelho de tudo o que há de crendice contra os ciclistas. E apontam o dedo à ignorância, demonstrando muito do seu carácter, pois perante o mesmo incumprimento, constantemente observado no comportamento abusivo dos automobilistas, estes desviam a conversa, devolvendo com o falso argumento da pretensa obrigatoriedade de um seguro para os ciclistas, de licenças para as bicicletas, de penalizações só porque há quem se atreva a usar corpo na mobilidade em pé da igualdade de direitos na estrada. Eu já ouvi e li isto, infelizmente demasiadas vezes, e isto é o que enfrentamos nas estradas todos os dias. É raro escutar um não ciclista discutir desafogadamente o papel da bicicleta na mobilidade sem ouvir esse chavão que os ciclistas são uns fora-da-lei. A aceitação dos factos faz com que as pessoas tenham razão para reclamar, mas afirmar que os ciclistas são todos uns bandidos que escapam impunes às regras da sociedade é ter a cegueira permanente do que vejo com muito maior frequência, ou seja, automobilistas a acelerar no amarelo para cruzar a intersecção sob o semáforo vermelho, colocando-se a si e aos outros num risco muito mais elevado.

Como qualquer pessoa que anda na rua pode atestar, os ciclistas não são diferentes dos peões ou dos automobilistas. Bem ou mal, o comportamento por eles adoptado é parte da mesma cultura urbana que observamos por todo o lado. “Achas que eu sou parvo, havias de me ver ali plantado!” Uma vez parado num STOP, após confirmar que a via está desimpedida e sem trânsito, perante a “via verde”não correndo o risco de atrapalhar os peões numa passadeira, da mesma forma que os peões o fazem, porque não atravessar com cautela, continuando em segurança o seu caminho!? Outro exemplo, que sei legal em vários países, é a possibilidade de avançar sob o semáforo vermelho nas viragens à direita. Confesso que também cometo as minhas infracções e assumo que não sou exemplo para ninguém. Até corri o risco de ser multado por passar num vermelho enquanto pedalava! Valeu-me o facto de o agente da autoridade me ter visto parado no vermelho antes de eu decidir avançar e entrar na rotunda. “Sim, eu passei no vermelho, mas se não havia trânsito!” O polícia condescendeu. Não estou com isto a dizer que fiz bem e que todos o devam fazer, sei bem que o quão fraco sou como elo nesta via, mas o facto é que por vezes me sinto mais em perigo ficando ali, na pole position, à espera do arranque da manada motorizada. Mas o melhor é mesmo respeitar as regras do código de estrada ao máximo, cumprir o código para receber em troca alguma dose de compreensão de quem connosco partilha a estrada, evitando constrangimentos e prejuízos, principalmente para nós.

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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