hoje não há fotografias

A fotografia de ciclismo inspira… e quem diz fotografia diz vídeo. Faz-nos sonhar com aquela bicicleta. Ter a visão deslumbrante do pico da montanha, como se nós mesmos escalamos a tais alturas vertiginosas. A noção de velocidade, a elegância sob o asfalto, um momento de esforço, um fotofinish…

Num click rápido na câmara do telefone que retiramos do jersey, documentamos os nossos passeios, pixel por pixel, instantâneos que substituirão as nossas memórias. Mais tarde somos compelidos a aborrecer os nossos seguidores nas redes sociais com imagens das nossas aventuras épicas, mas isso agora “é mato”! Até ao momento que acabaste de ler esta frase, provavelmente dois milhões de fotografias alusivas ao ciclismo terão sido fotografadas.

Num passeio de bicicleta, onde tão sozinhos estamos nas nossas viagens como de repente formamos um pelotão de amigos, queremos registar esses momentos que tomam a forma das estradas, as colorações dos trilhos, os momentos que vivemos. Focar o brilho do nascer do sol através da silhueta de um quadro com duas rodas. Tornar as lentes da objectiva os nossos olhos e captar o momento certo, no sítio certo. O pixel perfeito, provando que realmente subimos a montanha no selim da nossa bicicleta.

Nada pode saciar o nosso desejo de mais imagens de ciclismo. Despir com os olhos as bicicletas dos outros. Exibir as nossas. Mas, algumas bike selfies são melhores do que outras, convenhamos! Ao entrar numa qualquer plataforma de multimédia ou rede social, o nosso monitor fica repleto de bike selfies, de retratos de bicicletas solitárias em pé, em primeiro plano ou num fundo aleatório. A grande revelação da nossa linda bicla, exposta ao pormenor, deixa o ego do feliz proprietário suficientemente acariciado, e todo um submundo prevertido no bike porn babado!

Orgulhosos, partilhamos todos os momentos de vida da nossa companheira de pedais. Seu nascimento, primeiros arranhões e acidentes, novas roupas, as viagens de férias, brindes e suas conquistas. Ao fim e ao cabo é um peculiar caso de amor por um objecto inanimado, que nem sempre é correspondido. Depois percebemos os olhares estranhos daqueles que não pedalam. Para eles, o ciclista é um obsessivo, um gajo saudável, com bom coração, mas que não é bom da cabeça. Não faz mais nada do que andar de bicicleta!

Sim, nos gostamos da nossa bicicleta, de estar em cima dela e com ela seguir a nossa vida. Por trás da sombra do nosso “eu”, narcisista, o que fazemos é da nossa conta. Também não comento quando postam selfies ao volante ou tiram auto-retratos de beiças ao espelho! Tá?…

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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