O Douro é o cenário e a sua presença um elemento de ligação às memórias e ao imaginário. Um passado construído do impulso do desenvolvimento comercial e portuário. A história comprime-se numa imagem fixa, onde tudo se congela para que o tempo, mítico, misture a cidade, as muralhas medievais, as margens, os armazéns, os barcos. Negócios do comércio do vinho que se estendiam ao longo do curso do rio. O antigo entreposto vinhateiro de Vila Nova de Gaia que recebia os tradicionais barcos de transporte de vinho. O vinho do Porto que já não desce o rio nos Rabelos, essas velhas embarcações, que na margem direita à Ribeira apenas flutuam, em primeiro plano, compondo o postal guardado em imagens e recordações.
Correntes preocupações pela importância económica, na lógica do negócio global que é o turismo, vão restaurando e convertendo velhos edifícios. Em segundo plano vem a preocupação de manter uma fisionomia de paisagem de velho burgo, do Porto Património da Humanidade. O pensamento de suporte de uma economia do souvenir, cais de cruzeiros e wine tasting, transfigurando o íntimo das habitações e das margens em espaços públicos e adegas adaptadas para receber visitantes. Várias escalas para diferentes estrelas, multiplicam-se os hotéis, residenciais, espécie de parques temáticos de esplanadas e vistas exclusivas, vendo sair os residentes, cada vez mais envelhecidos, e os seus descendentes. Impulsos de uma neo-urbanização das duas margens, numa nova maneira de pensar a relação da metrópole, reciclando o passado e actualizando a condição urbana que evolui com outras relações e outros modos de ver e fazer a cidade.
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