textos de Marcos Paulo Schlickmann [11] TDM – Gestão da Demanda/Procura de Transportes

Durante muito tempo se acreditou que a demanda/procura de viagens (deslocações casa-trabalho principalmente) por automóvel era somente suprida com mais oferta de infraestrutura: rodovias, estradas, estacionamento. Nada mais lógico não é? Com o aumento da procura aumenta-se a oferta.

Aliado a isso, o apelo à liberdade que o automóvel vende e o fato de ter sido popularizado, com o Ford T, num país que tenta colocar a liberdade individual acima de tudo, os Estados Unidos da América, questionar a procura (ou tentar regulá-la) e o uso crescente do automóvel era de certa forma questionar a liberdade individual. Todos tinham direito a ter um carro, combustível, estacionamento e estrada e o governo não devia tentar influenciar negativamente a disseminação deste mantra: carros para todos.

Porém os técnicos rapidamente começaram a perceber uma regra muito básica relacionada à infraestrutura de transportes: o espaço para construir estradas e pavimentar a cidade é finito. Não há simplesmente espaço para construir indefinidamente faixas, elevados, túneis, duplicação, triplicação, quadruplicação, 5 pisos de estacionamento subterrâneo, redução de calçadas, demolição de prédios…não há espaço infinito para o rodoviarismo1,2! Isso sem contar os demais custos que o rodoviarismo cria: poluição e demais externalidades.

https://www.youtube.com/watch?v=HyaAB2R5un8

Nas décadas de 70 e 80 começaram então a surgir políticas que limitavam e regulavam o uso do automóvel. É verdade que tais políticas afetam infelizmente quem tem mesmo que usar o carro mas tal desvantagem não é culpa das políticas em si, e sim do sistema democrático que não pode favorecer e diferenciar uns usuários dos outros.

Aos poucos uma nova forma de resolver os problemas do transporte começou a surgir. O foco mudou da oferta para a procura. Foi criado um grupo de políticas chamado de TDM: Transport Demand Management3,4 (também Travel Demand Management, Traffic Demand Management). Em português: Gestão da Procura/Demanda do Transportes.

fig.1

Figura 1 – Espaço ocupado por cada tipo de veículo: Carro, Ônibus, Bicicleta. Fonte: http://www.sutp.org/component/phocadownload/category/60-tc-tdm?download=41:tc-tdm-en

TDM consiste em um conjunto de medidas que visam gerir melhor a demanda/procura de transporte, principalmente as viagens automóveis com um só ocupante. As medidas podem ser divididas em duas categorias, uma representando as medidas que “empurram” ou forçam a mudança de comportamento (medidas push ou vara) e outra representando as medidas que “puxam” ou convidam à mudança de comportamento (medidas pull ou cenoura). As medidas podem também ser conjugadas ou levadas em separado, podem ser integradas com transporte público e também podem ser adaptadas para cada cidade. Abaixo vou listar as principais.

Medidas que puxam/convidam (Pull – mais leves, não forçam muito a decisão de mudar os padrões de viagem):

  1. Melhoramento das condições para pedestres/peões;
  2. Melhoramento das condições para ciclistas;
  3. Melhoramento das condições do transporte público;
  4. Informação em tempo real sobre o transporte (incluindo o tráfego);
  5. Car pooling (partilha de viagem);
  6. Car sharing (partilha do automóvel);
  7. Táxi partilhado;
  8. Incentivo monetário a quem polui menos;
  9. Propaganda enaltecendo pedestres, ciclistas, usuários do transporte público.

Medidas que empurram (Push – mais pesadas, forçam a decisão de mudar os padrões de viagem):

  1. Pedágio/Portagem urbana (espacial ou temporal);
  2. Eficiente regulação do estacionamento (espacial ou temporal);
  3. Taxas no combustível (Taxas de carbono);
  4. Redução/gestão da rede viária (espacial ou temporal);
  5. Pedonalização de ruas;
  6. Proibição de tráfego a carros muito poluentes.

De certa forma, toda iniciativa que vise o não crescimento ou a diminuição do uso do automóvel pode ser considerada uma iniciativa TDM. Porém a grande vantagem dessas medidas é que podem ser pontuais, alterações específicas em certos bairros e pontos da cidade ou em certos períodos do dia, ou gerais, uma alteração das políticas de base de um governo a respeito de como encarar a mobilidade e os transportes, quais meios incentivar, quais desincentivar.

Nos próximos 3 textos irei escrever sobre 3 medidas TDM que mais me interessam: Pedágio/Portagem urbana, eficiente regulação do estacionamento e incentivos monetários a quem polui menos.

Há ainda outras medidas com o mesmo propósito das TDM. São as políticas de coordenação entre o uso do solo e os transportes, que irei falar num próximo texto.

 

Referencias:

1 http://antp.org.br/website/noticias/ponto-de-vista/show.asp?npgCode=B7717B45-CA32-4F83-802B-6C4FB95AB5FE

2 http://www.antp.org.br/website/noticias/ponto-de-vista/show.asp?npgCode=DB9FBBFC-4BDD-4A38-9A85-A4ED35845A46

3 http://www.sutp.org/component/phocadownload/category/60-tc-tdm?download=41:tc-tdm-en

4 http://www.vtpi.org/tdm/

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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3 respostas a textos de Marcos Paulo Schlickmann [11] TDM – Gestão da Demanda/Procura de Transportes

  1. Republicou isso em Matemática em Sobrale comentado:
    Mobilização urbana! descobrimos que os carros saturaram o espaço, e não somente saturaram o espaço como poluiram de forma inaceitável o meu ambiente. O consumismo automobolístico representa um retrocesso na forma de vida das pessoas, altera o comportamento de quem utiliza o automóvel torna insuportável a vida dos que andam a pé ou de bicicleta e criam um conceito de que usar carro é um direito que se sobrepõe ao direito de andar livremente nas ruas.

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  2. gerardopereira diz:

    Republicou isso em Gerardo Pereira.

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apenas pedalar ao nosso ritmo.