Como ciclista e automobilista estou em sintonia com todos os outros ciclistas e automobilistas que comigo partilham a estrada. Às vezes, quando percebo o movimento familiar de um veículo de duas rodas no canto do olho, eu atribuo a uma bicicleta mesmo que o veículo tenha motor e seja afinal uma moto. Essencialmente quando vou ao volante e vejo uma bicicleta nas proximidades a entrar na minha linha de acção, dou-lhe prioridade, partilho e alargo o espaço. É um comportamento instintivo sempre que estou a pedalar, a andar ou a conduzir. É uma segunda natureza.
Avaliar o ciclista e a bicicleta que pedala à minha frente também se tornou uma segunda natureza. Não que esteja à procura de algo em particular quando o observo, apenas utilizo a figura e o seu comportamento para formar algum tipo de opinião. Podemos descobrir muito sobre um ciclista só pela forma como ele ou ela pedala. O modo como se veste e a bicicleta que usa transmite-nos também algo sobre o ciclista que é, ou, pelo menos, que aparenta ser. Na maioria das vezes, não julgo o ciclista de qualquer forma. Sou particularmente perspicaz quando se trata de alguém que utiliza a bicicleta, seja qual for a finalidade, não ligando muito ao tipo de bicicleta, estilo ou de indumentária. Os ciclistas devem seguir os seus próprios instintos, métodos e percursos, até certo ponto!
Digo isto porque, quando no papel de automobilista também me saltam as estribeiras ao presenciar comportamentos arriscados e inconscientes de indivíduos em bicicleta. Alguns fazem coisas tão bizarras que custa imaginar o que estariam a pensar naquele momento. E não falo de ciclistas inexperientes, nem daqueles que estão na via pública como se estivessem no recreio da escola. Falo dos lunáticos que obstinadamente abusam da sorte.
Tome-se, por exemplo, o mau exemplo de um fulano que vi no outro dia. Nesse dia em especial, estava a regressar de uma viagem e conduzia na A1/IC1, já a entrar no Porto. Para meu espanto apercebo-me de um ciclista que pedalava na pista de desaceleração para a saída antes da Ponte da Arrábida. Uma via concedida para tráfego que passa a zunir geralmente acima dos 120km/h, embora o limite de velocidade esteja restrito aos 90km/h, não é propriamente o local ocasional para um maganão com idade para ter juízo estar a pedalar. Para ser claro, o gajo não estava a pedalar ao longo da berma, estava no meio faixa de saída, sem luzes ou reflectores. Poderia isto ser real? Creio ter esfregado os olhos para crer na veracidade daquela visão, mesmo à frente dos meus faróis, e arrepiei-me quando o carro que circulava entre nós dá uma guinada para a esquerda. Para meu espanto, total e absoluto, o tipo não foi atingido, esquivando-se para a entrada do parque de estacionamento do shopping. Os automobilistas surpreendidos por um estranho que pedalava em plena auto-estrada acabaram por ter sorte e rapidez de reacção para não o atropelar.
Entretanto fiquei a matutar no que estaria aquele maluco a pensar? Esse é o problema: ele não estava a pensar. De racional aquele tipo não tinha nada. Não parecia consciente do perigo em que se havia metido. Ou estava!? Não observou a sua própria segurança nem a de todos. Certamente não apareceu ali sem querer, desde a ultima entrada na AE, nas Devesas, são quase 2km. Teria planeado aquilo como demonstração de chico-espertice, aposta ou qualquer outra forma de loucura, vá se lá saber! Estar sentado em cima de duas rodas, accionadas por um conjunto de pedais, pode parecer algo tão fácil de fazer mas que certamente requer não só prática como noção do que se está a praticar. Apenas pedalar uma bicicleta não se qualifica como ciclista. É preciso ter conhecimento da estrada, valorizar a própria e a segurança de toda a gente. Devemos saber os limites da própria bicicleta. Não é tanto uma questão de dizer às pessoas como ou onde devem pedalar, mas sim um meio de informar que é necessário ter alguma responsabilidade. Queremos que os automobilistas respeitem os ciclistas, que partilhem devidamente a estrada, e para isso devemos dar o nosso exemplo de responsabilidade e de noção onde a bicicleta pode e deve estar.
Há um passeio dos dois lados da ponte da Arrábida, com entradas e saídas nos dois lados para ruas de acesso. E esses passeios são muitas vezes usados para atravessar a ponte de bicicleta. O erro do ciclista foi não ter virado depois da ponte para a rua do planetário.
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Sim é verdade, esse é o acesso habitual para quem atravessa a ponte a pé ou de bicicleta, mas no caso, e para estar a pedalar ali na AE, o tipo deverá ter entrado no nó das Devesas para depois o ter visto e saír antes da ponte, em direcção ao shopping.
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Pode ser, mas a verdade é que toda a zona da Arrábida é confusa e não é propriamente amiga dos veículos que não sejam automóveis. É fácil entrar em vias que não se devia estar, precisamente porque não há vias para atravessar a zona a pé ou de bicicleta. Por exemplo, a via que vai do Arrábida Shopping até à Ponte não é vedada a bicicletas, mas depois desemboca na autoestrada sem haver saída. E ao contrário é a mesma coisa, com a agravante de ter uma passagem para peoes por baixo do tabuleiro da ponte, que até há ponto tempo não era desnivelado. A zona é um caos para dizer a verdade, e extremamente hostil para quem a quer usar de bicicleta.
É claro que os erros dos utilizadores das bicicletas neste caso serão muito mais graves precisamente por causa do erro de concepção viária da zona. Mas claro que isto não deve desculpar a falta de atenção e cuidado do ciclista.
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Uma coisa que me esqueci de referir é que entre o nó das Devesas e de Canidelo e a Arrábida, existem muitos acessos improvisados ao logo da autoestrada, e isto parece-me que existe porque não foram pensadas alternativas decentes para quem não se desloca de carro. Por exemplo, Na zona ao redor do Continente de Gaia, há pessoas a atravessar a via rápida de acesso, porque ao caminhar por meio do mato poupam mais de metade da distância que fariam se caminhassem ao lado da estrada cheia de trânsito e com um passeio minúsculo. E porque é que isto acontece? Porque fizeram vias rápidas em meio mais ou menos urbano sem considerar os movimento actuais e futuros de peões e ciclistas.
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