Alapado no sofá, assistindo televisão enquanto se sopra o topo de uma caneca aquecida, numa manhã invernal como as destes dias, a procrastinar a saída a pedalar, para o trabalho ou um simples treininho, não soa estranho ao comum mortal. O conforto da habitação, da força vital das máquinas, é sedutor, e andar de bicicleta nesta época do ano pode ser um desafio.
Apenas o acto de vestir pode ser uma tarefa vagarosa: várias camadas de roupa, impermeável ou corta-vento, botas com a respectiva capa, luvas, gorro, máscara facial (não estamos obrigados a pedalar de mascara mas assim até que sabe bem para não congelar o nariz) são vestes necessárias para as pedaladas de inverno. Isso deixa uma sensação de ciclista volumoso, aquela impressão desagradável de roupa a esfregar na roupa, que se torna mais audível a cada pedalada. Tanto esforço faz o ciclismo no inverno parecer o cabo dos trabalhos, mas todo esse trabalho pode fazer das pedaladas no inverno momentos inesquecíveis.
Uma vez ao ar livre, nunca a experiência de pedalar no frio, à chuva e ao vento, parece tão funesta quanto optar por um veículo dispendioso, por um motor a combustão que está mais tempo parado do que móvel. Mas estes argumentos não significam que seja mais fácil motivar outros que olham para mim desconfiados. Com temperaturas mais baixas, negativas, pode-se aquecer de várias maneiras, mas é o exercício físico que melhor gera calor nos tecidos e diminui a contracção musculo-esquelética. Aumenta a temperatura da pele e adapta as nossas respostas metabólicas ao meio ambiente. O gasto energético para além de associado à diminuição de obesidade mantém o corpo aquecido. Assim, a possibilidade de engordar no interior de um veículo pode ser um forte motivador para sair a pedalar, mesmo ao frio.
Para muitos, os ciclistas sempre foram uma raça rústica. Também com a noção de união com a natureza é uma boa razão para assumir o ciclismo no inverno. Andar ao ar livre, através do gelo, da neve, sob o seu próprio poder, leva o ciclista a estar mais perto da natureza e mais perto da sua existência. Manter esses pensamentos em mente, faz com que esteja mais consciente do que o rodeia, e tais ideias podem fazer com que outros encontrem motivação para andar de bicicleta, tanto no inverno como no verão.
De peito feito, determinado de suportar o frio, a chuva cortante e chicotadas de vento, o que leva um tipo a ter doses especiais de motivação!? É uma motivação baseada na certeza que a bicicleta é uma actividade para todo o ano. A alegria de pedalar, de percorrer um qualquer caminho, sob qualquer tipo de adversidade, querendo superar os elementos, criando o sentimento de auto-suficiência, independência e resistência, que o mantém em forma, melhora a sua saúde, o seu humor, alivia o stress e libera endorfinas em resultado do exercício. Sob camadas de roupa, enfrentando condições agrestes, estão armados com o conhecimento de que a perseverança e o esforço lhes dão a vantagem final.