Esta manhã perdi a conta às vezes que tive de me repetir com um “é claro que vim!”, dando resposta à constante e boquiaberta questão. Supostamente, para muita boa gente, ciclismo, vendavais e tempestades diluvianas nada parecem ter em comum. E a bem da verdade não têm mesmo, por si só porque é uma verdadeira loucura alguém se fazer à estrada de bicicleta nestas condições, mas que querem, é o meu meio de transporte e ser um ciclista é uma vantagem quando se trata de furar temporais e filas de carros engarrafados.
Ao longo dos últimos dias, os noticiários têm sido inundados com advertências da meteorologia sobre o mau tempo, fortes chuvadas e vendavais, que ainda nos fustigam… Agora mesmo regressei a casa e pude confirmar. O clima não está mesmo nada favorável às pedaladas, mas e depois! Não é nenhum furacão, nem me parece que vá ocorrer um fenómeno idêntico a um tornado, que me faça ficar em casa ou levar a tomar medidas extremas para me preparar para a tempestade, como utilizar o carro! Não, eu cá tenho os meus acessórios e roupas apropriadas para enfrentar a intempérie.
Esta manhã, enquanto ouvia os noticiários televisivos que iam alertando sobre o estado de emergência laranja, vermelho, colorindo a negro a situação lá fora, ia calçando as botas nos pés (com um saquinho plástico sobre as meias, just in case), me enfiando nas roupas impermeáveis do costume, específicas para a chuva e com uma capa extra para proteger a minha extremidade traseira, a esvoaçar pela força do vento, e para tornar a minha viagem ainda mais confortável fui buscar a minha bicicleta configurada para o efeito. Como era previsível cheguei ao serviço a tempo e horas, o meu rainwear manteve-me seco e quentinho, com um aparte para a cara e mãos molhadas, porque acho improcedente usar luvas à chuva. Depois, enquanto ia conferindo a chegada atrasada de colegas desgrenhados, de guarda-chuva revirado, encharcados e enfadados, demonstrava-lhes que a bicicleta é à prova de borrascas.
Eu sempre soube que havia vantagens em ser ciclista, mesmo em dias tormentosos como o de hoje. Quem me vê chegar da rua, a pedalar num dia assim, nunca perceberá o quão conveniente é poder enfrentar as condições incómodas de um verdadeiro temporal. O ciclismo tem vantagens sobre aqueles que recorrem ao carro. Algumas são óbvias e outras nem tanto. As pessoas raramente entendem a forma como o ciclismo melhor nos prepara para enfrentar as dificuldades e as coisas inesperadas da vida. Só não nos livra da mágoa, da boca seca e da lágrima revolta, perante uma notícia destas.
Pingback: ciclistas de inverno, uma raça rústica | na bicicleta
Pingback: reciclando [46] ciclistas de inverno, uma raça rústica | na bicicleta