Ciclistas ocuparam o Campo Grande em homenagem a jovem atropelada
“Ana Oliveira foi abalroada por um condutor que não terá respeitado o sinal vermelho. Ciclistas pedem o fim aos atropelamentos.”
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Não é apenas por ser pai de filho ciclista que bato na mesma tecla. É como cidadão que diariamente se move a pedais e que estremece perante as mortes de quem livremente circula de bicicleta. Todas as mortes, desafortunadamente demasiadas, deixam-me triste e apreensivo.
Embora as regras de trânsito tenham sido (pouco) reformuladas na protecção que é dada aos utilizadores vulneráveis da estrada, é um pressuposto falso se repetir que o automobilista deve ter a supremacia na via pública porque o veículo que conduz é mais rápido. Não é o tipo de veículo que regula a ordem rodoviária. As leis de trânsito deverão ser ponderadas para controlar o veículo motorizado, para criar ordem e cooperação entre os diferentes utilizadores da estrada. A maioria dos acidentes rodoviários é causada pelo desrespeito constante das regras de trânsito, negligência e desatenção de que conduz. Independentemente do tipo de veículo, o desrespeito individual nas estradas tem correspondência na maior probabilidade de ocorrerem acidentes, o que responsabiliza também todos os que partilham a via pública, como os peões e os ciclistas.
Com o aumento das bicicletas nas ruas e estradas, temos de intensificar a discussão, no bom sentido, de como as leis de trânsito deverão ser cumpridas. Mas a quantidade de bicicletas a circular não é a questão. A questão essencial do problema é como educar os automobilistas. Os números assombrosos dos acidentes rodoviários, atropelamentos e das vítimas mortais resultantes são assustadores. A revisão de algumas das regras da estrada (CdE de Janeiro de 2014) visou proteger os utentes mais vulneráveis. O CdE deu mais direitos aos ciclistas mas veio também responsabilizá-los na sua conduta e no respeito das regras. Por outro lado, ao estabelecer a regulamentação do cumprimento da distância mínima de 1,5m que deve ser dado nas ultrapassagens aos ciclistas, por exemplo, pede-se maior responsabilidade ao condutor. No dever implícito do cumprimento dos limites de velocidade, no redobrar da atenção e cuidados na partilha da via com os restantes utilizadores. Precisamos de bicicletas por todas as razões e pelo valor que elas nos oferecem. Precisamos promover e incentivar o uso da bicicleta como modo de transporte limpo, eficaz e seguro, que se sobreponha à contínua prevalência do sacrossanto automóvel. Precisamos Planear a cidade ao transporte suave e por as pessoas a pedalar. Sem medos.
Como ciclista, um dos meus objectivos ao pedalar é também demonstrar que a bicicleta é um dos modos mais eficazes e alternativos no combate à pandemia “covidiana”. Utilizar este meio fantástico de divulgação para promover a segurança e a cooperação entre os carros e as bicicletas. Devemos ter a noção que a cooperação é necessária, e eu acredito que é possível. A partilha, segura e eficiente da estrada é muito mais provável de acontecer quando ambos seguem os mesmos regulamentos. Não é suposto tentarem nos convencer que são os ciclistas o foco do perigo. Ouço e leio comentários que alguns dos ciclistas têm comportamentos “incumpridores” das regras. O que acontece muitas vezes é que esses ciclistas estão apenas a tentar salvar o coiro. Todos somos testemunhas diárias que alguns automobilistas são impacientes, agressivos e com pouca consideração para qualquer tipo que vá à sua frente e o faça abrandar. O aborreça! Alguns, tendenciosos contra os ciclistas, são encorajados a acreditar que as bicicletas pertencem a uma terceira categoria nas ruas. Gabam-se com um sinistro orgulho que desrespeitam deliberadamente as regras e incentivam um comportamento irresponsável, infringindo a lei. Para eles as bicicletas são intrusas e não deveriam estar ali, a partilhar a rua. Se houvesse mais respeito, ao peão, ao ciclista e ao Código da Estrada, estou convencido que não haveriam estes acidentes.