um Sayago Blues à minha moda

Sayago Blues #7

“Subo e desço este rio
Da Miranda ao Araínho
Sob a torreira e o frio
Faço a escarpa brotar vinho

Rio abaixo rio acima
A dar aos remos no rabelo
Rio abaixo rio acima
Sayago paira por cima
O sonho vira pesadelo

Vinha eu no meu caíco
A ouvir das águas do Douro
Velhas lendas de fronteira
Entre o cristão e o mouro”

Sayago Blues #1

Foi a letra da canção Sayago Blues escrita por Carlos Tê e cantada por Rui Veloso que me inspirou a voltinha de ontem, uma espécie de Brevet pessoal que repeti na companhia do meu grande amigo Rui. Pedalar de casa à casa da minha mãe, à aldeia dos meus avós, um Lugar cativo no meu coração, conviver com os meus tios para voltar logo a seguir. Rio acima, rio abaixo, acompanhando o Douro que deslizava encorpado, gelatinoso, cor de chocolate, deixando um convite para abalarmos na força da sua corrente.

Com sono e genica, pela N108 segui viagem em boa companhia para um reencontro com a emoção, para um Lugar que tem lugar cativo no meu coração, não me canso de repetir. Freixo, Foz do Sousa, Barragem, Rio Mau, Entre-os-Rios, Alpendorada, Pala. A manhã estava uma delícia e o tempo passou depressa, a viajar suavemente ao despique do vento com as subidas, ritmado pela própria cadência do Douro. A nuance em relação a pedaladas anteriores junto ao rio foi atravessá-lo para a outra banda, para Porto Antigo pela ponte de Mosteirô.

Inspirar o aroma da terra, a pureza e a braveza das encostas, o impulso que sinto ao passar de novo por estes caminhos de solidão com a sensação de estar a sonhar acordado. Chegamos a Resende e logo depois saímos da N222 para descer a toda a velocidade e atravessar de novo o Douro, agora em câmara lenta pela Ponte da Ermida. Lembra-me a minha mãe quando nos dizia: “já cheira a Castelo”. Cheguei a casa, ao Lugar do Castelo, e na casa dos Lírios nos sentamos à mesa com os meus tios, contando as peripécias da aventura e matando saudades.

Regressamos ao Porto pela N108, barrigas saciadas, alma cheia. Balouçando sob um quadro rodado que alberga certezas e ilusões nesta tranquila e deslumbrante liberdade que é pedalar, íamos devegarinho. E como bem sabemos, quem pedala tem a forte probabilidade de encontrar amigos ao contornar uma curva. Foi o que veio a acontecer. Para abrilhantar o passeio, tivemos a companhia por algum tempo da Rita e do Vítor, nossos amigos, cicloturistas fantásticos que pedalam para bué, bué de longe. Num percurso tripartido pelo fim-de-semana prolongado, completavam a última etapa dos 350km que bem pedalaram.

Sayago Blues #27
Rico dia, o Dia da Liberdade, da liberdade que é o espaço que a felicidade precisa.

 

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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Uma resposta a um Sayago Blues à minha moda

  1. Nelson Branco diz:

    Muito bom, como sempre…

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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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