Às vezes, muitas vezes, gosto de registar aquilo que vejo, por onde ando, com quem pedalo. São instantâneos do meu quotidiano que abrilhantam determinado momento do meu caminho. Da aventura de uma estrada aberta a todas as coisas juntas que animadas nos falam de bicicletas, do sentimento de liberdade e de pessoas a pedalar. O sensor da câmara é insensível e a arte tem as suas limitações. Os olhos humanos têm os bits de minúcias que uma câmara digital não consegue captar. A foto não saiu bem, digo a mim mesmo. Felizmente, quando mais tarde vejo que a fotografia sempre fez jus à emoção do momento, de alguma forma me envaidece ao retratar na exacta medida aquilo que sentia quando olhei através do visor e dei o click.
Mas existem maneiras de ver e demonstrar aquilo que quero mostrar. Nem sempre o foco do meu pensamento está no objecto de interesse, numa bicicleta, mas literalmente na paisagem que compõe a imagem. Na desordem estranha ao encontrar um cenário efémero. Considerando a cor e o brilho, a textura e o contraste, o plano de fundo, as diferenças de luz e de sombra. Um quadro que pode chamar a atenção imediatamente para o momento, para uma imagem apropriada ao ambiente, ao cenário que relaciona o ciclismo com o quotidiano.
E depois há infinitas possibilidades de uma fotografia ser algo irreal e evocativo, uma sensação de fuga e saudade. Uma forma de expressar o nosso próprio e particular estilo no relacionamento com o que nos rodeia. Uma praia, calhaus, aquele pôr-do-sol que brilha no horizonte, o mar e a bicicleta. Algo que represente isso e que sugira também um sentido de localização. Que configure um final de dia entre a luz, a lua e as estrelas. Que capture uma sensação de magia com uma série de imagens. Apenas demonstrar que fotografar com uma reles objectiva de telemóvel enquanto pedalo ter alguma criatividade para registar um passeio ou um luminoso regresso a casa.