Cidades amigas dos ciclistas
“A bicicleta foi recentemente eleita pela ONU como o transporte ecologicamente mais sustentável do planeta. Na realidade, este fantástico meio de transporte acessível a todos os tipos de pessoas, não emite gases poluentes, não faz barulho e é uma forma privilegiada de entrar em contacto com as populações e de conhecer as forças e as vulnerabilidades da cultura local. Enquanto objeto de lazer e turismo, a utilização da bicicleta está associada a muitos dos valores pelos quais muitos cidadãos se sentem atraídos: liberdade, autenticidade, descoberta, independência, tranquilidade, bem-estar e poder usufruir com todos os sentidos dos encantos de uma cidade ou de uma paisagem natural. Além disso, os viajantes de bicicleta encontram nesta forma de viajar uma velocidade de pedalada perfeita para ver o mundo tal como ele é. O turista de bicicleta, devido à forma lenta com que se desloca, tem mais tempo para descobrir e apreciar o património local e pode deslocar-se fora dos itinerários turísticos clássicos.
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E Caldas da Rainha?
Lamentavelmente e apesar das recentes obras de requalificação de algumas ruas da cidade da cidade, nada foi feito para fomentar o uso da bicicleta, quer nas deslocações para o trabalho ou para a escola, quer no lazer e no turismo. Na zona urbana das Caldas não existe qualquer ciclovia, nem foram criados estacionamentos atrativos e seguros.
Com este cenário, quantas são os pais que encorajam os seus filhos a deslocarem-se de bicicleta para a escola? E quantos são os cidadãos que se atrevem a ir de bicicleta para o trabalho?
A “rede” concelhia de ciclovias é muito pobre, incompleta e sem conexão.
Inexplicavelmente, a ciclovia Caldas-Foz do Arelho só começa a 3km do centro da cidade, depois do nó da A8. Há alguns anos o então vereador do desporto justificou esta situação afirmando que a ideia era a ciclovia começar junto ao Estádio Municipal. E como é que se transportam as bicicletas para o Estádio Municipal? De carro? Mas as ciclovias existem para as pessoas não utilizarem o carro!!
A ecopista da lagoa, uma das mais belas do nosso país, continua incompleta, sem ligação entre as margem norte e sul.
A ciclovia da estrada atlântica, que não passa de uma berma mais larga, onde os ciclistas tem que circular nos 2 sentidos…tem grandes declives e só começa no alto de Salir do Porto.
A ciclovia que deveria existir entre a praia de Salir do Porto e a cidade das Caldas, apenas liga a aldeia de Chão da Parada ao apeadeiro do comboio de Salir do Porto.
Relativamente à ligação ciclável entre as localidades mais importantes da região Oeste (Óbidos, Bombarral, Torres Vedras, Peniche, Lourinhã, Rio Maior, Santarém, Nazaré, Alcobaça, S. Martinho do Porto)… está tudo por fazer. Aos ciclistas e cicloturistas não resta alternativa do que partilhar a estrada, o tráfego e os riscos com os automóveis.
Enquanto na maior parte dos países da Europa considerados “amigos da bicicleta” existem Plano Nacionais de Ciclovias, em Portugal tudo tem girado em torno da vontade e dos caprichos dos autarcas e governantes.
Se as Caldas fosse uma cidade “bike friendly” (amiga do ciclista) existiriam várias ciclovias a ligar os bairros da cidade ao centro e seria possível a qualquer cidadão deslocar-se de casa para o emprego ou para a escola de bicicleta, em pistas cicláveis seguras e separadas dos veículos automóveis.
Se as Caldas fosse uma cidade “bike friendly” seria possível a qualquer cidadão fazer o trajeto Caldas-Foz do Arelho, sempre em ciclovia, partindo de qualquer ponto da cidade.
Se as Caldas fosse uma cidade “bike friendly” haveriam estacionamentos adequados e seguros junto às escolas, fábricas, restaurantes, museus, locais de interesse turístico e junto às estações de autocarros e de caminho de ferro,
Se as Caldas fosse uma cidade “bike friendly” existiriam vários “Bike Hotel”, com capacidade para atrair e receber turistas de bicicleta, disponibilizando estacionamento seguro e locais para limpeza e manutenção das bicicletas.
Se o Oeste fosse uma região “bike friendly” haveria um Plano Regional de ciclovias, ligando as principais localidades da região, possibilitando aos cicloturistas visitar o rico património histórico, cultural e paisagístico desta região com benefícios diretos para as economias locais.
Se o Portugal fosse um país “bike friendly” todos os anos seríamos visitados por centenas de milhares de turistas de bicicleta, atraídos pela beleza do nosso território e pela riqueza do nosso património histórico, cultural e paisagístico… e o impacto económico seria enorme.
Por: Vitor Milheiro
Docente na Escola Superior de Desporto de Rio Maior
Viajante de bicicleta”
podes ler este excelente e pertinente artigo, na sua totalidade, em: http://www.gazetacaldas.com/52691/cidades-amigas-dos-ciclistas/