Esta manhã, enquanto pedalava para o trabalho, um motociclista coloca-se ao meu lado, cumprimenta-me, e quando o julgava gabar a minha bicicleta, o barulho do ciclomotor não me deixou perceber à primeira o que afinal vociferava: “Sabia que é obrigatório usar capacete!!!”… É obrigatório o quê!!!? Aquela “reprimenda” de tão cumpridor cidadão não me espantou, pois o que não falta por aí é pessoal a conduzir sem o mínimo conhecimento do Código da Estrada. Mas quando o ilustre condutor de motoreta, insistindo na sua tese e reprovando a minha posição mais ao centro da via, numa via de sentido único, porque segundo o suposto doutorado nas regras de trânsito… “Eu sou ciclista!…”, pois, segundo o suposto ciclista doutorado nas regras de trânsito, eu deveria estar a pedalar mais à direita, ou seja encostado aos carros estacionados, aconselhei-o variadas vezes a apear-se do seu “secador” e ir de imediato inscrever-se numa escola de condução para que fizesse, com urgência, uma reciclagem ao Código da Estrada.
O assunto tem a sua polémica, merece discussão cuidada e argumentação exacta, nunca se debater em plena via, enquanto se circula. Se tive vontade de parar e lhe esfregar o novo Código da Estrada em vigor desde 1 de Janeiro de 2014 nas fuças, lá isso tive, mas como o tipo estava a ultrapassar-me, sem manter a distância lateral de mínimo de 1,5m, deixei o palerma ir à sua vida.
A propósito, reciclo o que já aqui publiquei sobre o mesmo assunto:
capacete, sim ou não!
Talvez um dia, na estrada, darão mais atenção aos ciclistas. O preconceito será uma coisa do passado e cada um de nós será respeitado como somos. Por agora, no global, saúdo as alterações, no entanto não me satisfazendo plenamente, persistem ainda muitas outras questões no que à protecção ao ciclista diz respeito. Aqueles cuja natural predisposição no trânsito é a arrogância e a intolerância, estarão fora de regra e terão de acatar as imposições estabelecidas.
A questão do capacete é uma entre várias que abordam as bicicletas nas alterações propostas pelo Governo. Do ponto de vista da segurança parece claro, proteger um crânio de qualquer forma não pode ser uma coisa inútil. Ou assim parecia! Essa tendência começou no mundo do ciclismo profissional há coisa de duas décadas. Depois o debate seguiu feroz sobre se deve ser obrigatório usar um capacete ao andar de bicicleta.
O argumento popular na comunidade ciclista contra o uso do capacete é que ninguém usa um capacete na Holanda. Isto é verdade. Os holandeses não vêem a necessidade do uso do capacete como indispensável para a sua segurança. E a maioria deles sobrevive sem o capacete. A sua cultura é muito diferente de muitos outros países onde andar de bicicleta perto dos carros pode ser interpretado como nada menos do que coisa de gente maluca. Há quem chegue ao extremo argumentativo para provar que o uso de um capacete é prejudicial ao ciclista. Citam estudos e estatísticas que supostamente mostram haver um maior número de vítimas causadas por lesões que não foram protegidas pelo uso do capacete.
A maioria dos profissionais médicos vê o uso do capacete como obrigatório. Têm pelo seu lado a experiência em primeira mão dos danos que podem resultar de um trauma na cabeça. Muitos automobilistas entendem que se um ciclista se recusa a usar um capacete é um inconsciente e um criminoso, mesmo que o real perigo advenha nomeadamente das suas decisões e atitudes ao volante.
Podemos debater os prós e os contras do uso do capacete por tempo indeterminado. Nenhum dos dois lados vai convencer o outro porque este debate não se baseia na lógica. Ele é baseado em convicções e preferências pessoais. Andar de bicicleta é conveniente, divertido, oferece muitos benefícios para um indivíduo e para a sociedade. Desencorajar o uso da bicicleta exigindo a todos a usar um capacete derrota todos os aspectos positivos do ciclismo. Nesse sentido é contra-produtivo. Talvez a única coisa com que possa concordar é a questão de tornar obrigatório o uso do capacete a crianças com menos de sete anos, embora considere um absurdo a multa conjecturada. Desde que o meu filho aprendeu a pedalar, a regra da casa era que ele usava sempre um capacete. Para não ficar atrás do exemplo paternal, ao contrário do ponto de vista maternal, desde que pedala diariamente não o usa.
Alguns defensores do uso do capacete não podem forçar os outros a usar um capacete. Embora as intenções sejam sinceras os seus argumentos para obrigar a utilização de um capacete são fracos. Eu posso alegremente recordar quando era jovem, quando andava de bicicleta de cabeça descoberta, os muitos trambolhões que dei: quando atropelei um cão, quando bati contra um carro mal estacionado ou quando me deu a macacoa e desmaiei enquanto pedalava. Em nenhuma das situações “rachei a mona”. Já antes que pudesse subir para um selim de bicicleta, meus pais me haviam costurado o couro cabeludo. No que aos primeiros socorros dizia respeito eu estava garantido, pois tinha o privilégio permanente de dois enfermeiros de urgência lá em casa. Ainda tenho bem visível um lembrete na testa de quão frágil é a cabeça humana, e mesmo em momentos e nas situações mais corriqueiras podemos ficar com um galo do caraças.
Eu reconheço que um capacete protege a cabeça. Não precisam de me bombardear com pseudo-evidências científicas que um capacete pode de facto proteger a cabeça. Em jeito de justificação, eu uso sempre o capacete quando o considero apropriado, em pedaladas mais radicais ou em percursos de maior velocidade. Com esta alteração de regras, com mais pessoas a pedalar na cidade, com a adequação dos costumes a essa realidade, o debate sobre o uso do capacete obrigatório vai aquecer. O dilema sobre o uso do capacete pode, eventualmente, resolver-se com a tecnologia, evoluir e tornar mais conveniente a protecção da cabeça do ciclista, no entanto, quero ser poupado à necessidade de outros tomarem essa decisão por mim. Eu tendo a favorecer a liberdade pessoal, sempre que possível.
adenda a propósito:
Ayer salió a la luz el proyecto de reforma del Reglamento General de Circulación (RGC) de la DGT. Tras un injustificado retraso -la modificación iba a ser una realidad la legislatura anterior- conversaciones con asociaciones, grupos ciclistas, señales positivas y diálogo, llega una norma injusta, ilógica e irracional. Concretamente por el artículo 179:
Artículo 179. Otras normas.
1. Los ciclistas, y en su caso los ocupantes, estarán obligados a utilizar cascos de protección homologados o certificados según la legislación vigente. Los ciclistas en competición y los ciclistas profesionales en entrenamiento o en competición, se regirán por sus propias normas.
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Al principio parecía que se iban a valorar sus opiniones; teniendo en cuenta que Seguí y Fernández Díaz, ministro de Interior, llegan cada día en coche oficial al trabajo, era lógico. Pero en un escalofriante giro de la trama, el argumentario de los pedaleantes ha quedado en papel mojado. “El casco obligatorio, el arrinconamiento del ciclista en la calzada y el mantenimiento del régimen sancionador a los ciclistas como si provocaran el mismo peligro que los motorizados, parecen pretender desanimar y expulsar a los ciclistas de las calles”, resume Conbici su posición respecto a la norma.
Datos de Bicycle Helmet Safety Institute and Bicycle Helmet Research Foundation
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Pode ler o artigo completo aqui.