“País rico não é aquele em que todos andam de carro,
e sim aquele em que os ricos também usam transporte público”
Enrique Peñalosa
Durante os anos 60 e 70 os movimentos hippie e ambiental encontraram suporte para se propagar na esquerda progressista americana, ecoando suas ideias pelo mundo através de ícones como os Beatles. Estes movimentos, na minha humilde opinião de comentador político de sofá, foram o ápice do que eu entendo como uma nova esquerda: um bocado desapegada das ideias do comunismo, socialismo e estado em excesso e mais apegadas aos problemas reais e palpáveis causados pela destruição indiscriminada do meio ambiente, poluição e crise do petróleo.
Porém, naquela época, tanto Brasil como Portugal eram “terra de ninguém”. Portugal estava saindo de uma ditadura fascista de 40 anos, comandada por uma direita conservadora e religiosa, e o Brasil estava no auge de uma “ditadura tropical”, também comandada pela direita conservadora, mas não tão intensa como em Portugal. Em 1974 Portugal conheceu a democracia e em 1985 o Brasil também.
Logo ai vemos que a esquerda (oposição) tanto portuguesa quanto brasileira tinha outras preocupações. Preocupações essas muito diferentes da esquerda liberal “Paz e Amor” americana. Enquanto nos EUA a esquerda queria repensar os padrões de consumo americanos, diminuir a dependência de petróleo e “abraçar as árvores”, tanto no Brasil quanto em Portugal, a esquerda queria justamente o contrário: dar acesso aos bens de consumo e aos bons salários para os trabalhadores pobres e estupidamente explorados pelas elites, causas sempre associadas àquela esquerda mais tradicional.
Os políticos de esquerda que chegaram ao poder no Brasil e em Portugal no século XXI formaram suas opiniões durante o período de ditadura de direita. Tanto o Lula (PT) e a Dilma (PT) no Brasil, quanto o José Sócrates (PS) em Portugal, governaram em períodos de vacas gordas, e no entender deles a “salvação do proletariado” passava obrigatoriamente pela mimificação, em menor escala recorrendo ao crédito fácil, dos padrões de consumo da elite, ou seja, das duas vontades citadas acima, dar acesso aos bens de consumo e aos bons salários, somente uma eles conseguiram cumprir, a primeira.
Frases como “pobre tem direito a ter um carro”, “pobre não é obrigado a se sujeitar ao transporte público” se tornaram o mantra dessa esquerda neoburguesa que, na minha humilde opinião, acredita na libertação dos pobres através do automóvel, incentivando e barateando sua compra e uso, a meu ver com dois objetivos:
1º: um carro = um voto;
2º: para mostrar ao ocidente malvado e explorador de classes que o “socialismo burguês” tropical ou português afinal funciona, pois todos são ricos e têm carro e casa no subúrbio, mesmo vivendo com baixos salários.
Ah mais e a poluição, o congestionamento, o meio ambiente??? Os ricos que paguem!