Basta um quarto d’hora sentado numa esplanada junto a uma das mais concorridas vias cá do burgo à beira mar plantadas, enquanto se degusta um café num Domingo de manhã, para se dar conta do desequilíbrio entre os vários géneros de bicicletas que por lá passam. Não será um “diz-me com que bicicleta andas, dir-te-ei que ciclista és” mas apenas a constatação da discrepância entres as biclas urbanas e as restantes, as desportistas. E nem é necessária muita paciência para as contabilizar.
O velocipedismo é uma forma legítima de transporte, acessível e usado por muita gente que simplesmente monta qualquer tipo de bicicleta. O que desencoraja muita gente usar a bicicleta para a sua verdadeira função, a de transporte, é a falta de condições de segurança e outras acomodações que façam deste meio de locomoção mais prático e seguro. Outra desigualdade que ainda se nota mas que tende a diminuir é o número de mulheres que pedala.

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Não é difícil perceber porque algumas pessoas dizem ser desencorajadas a pedalar, pois há toda uma série de problemas que enfrentam quando tentam encaixar o ciclismo no seu quotidiano. Não esquecendo as questões práticas, a segurança e a comodidade, outra questão é a escassa oferta de cicloprodutos para satisfazer as necessidades relacionadas com esta área do velocipedismo tradicional. E com razão, porque, em geral, os produtos de ciclismo são mais orientados à prática desportiva, o que me leva a falar de um lugar estranho para muita gente: a loja de bicicletas.

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Entrar numa loja de bicicletas de uma qualquer mega superfície é como penetrar num mundo de sonho para muitos ciclistas mas numa loja de aberrações para outros. Elegantes bicicletas de corrida, máquinas todo-o-terreno estrategicamente posicionadas perto da entrada, carbono reluzente a revestir montras, uma panóplia de ferramentas e produtos de manutenção, com destaque para a navegação, são exibidas. Um gajo perde-se e nem sabe para onde olhar primeiro, no entanto poucas ou nenhumas bicicletas de aparência tradicional, traçado clássico, patine antiquada e outras mais modestas estão amontoados a um canto. Informalmente, os clientes procuram quem dê informações, orientações que muitas vezes lhes são dadas sem o devido conhecimento e profissionalismo. Para piorar a situação, muitas das técnicas de vendas que usam enfatizam mais o aspecto técnico das bicicletas, orientando muitas vezes a tomada de decisão para a compra de um produto caro sem que estejam realmente interessados se aquela bicicleta que estão a tentar vender é a ideal para atender a finalidade e estilo de pedalada do cliente.

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As lojas mais antigas, as de rua, o chamado comércio tradicional, vestem frequentemente outro tipo de cliente. Há outra simpatia e know-how. A superfície de exposição é muito menor, são escassos os produtos expostos, para além de pó as prateleiras estão cobertas de coisas boas. Parece até que a sua atmosfera é suficiente para atrair clientes. Tem um ambiente hospitaleiro, espaço suficiente para alinhar meia dúzia de biclas. A menos que a loja empregue pessoas do sexo feminino, a bicla mais vistosa é a que ostentará a vitrina. Ali os termos técnicos são explicados com sabedoria, procura-se entender a escolha ideal, há cortesia com o consumidor, assume-se o risco de atender as necessidades do cliente sem o pejo de ter de indicar a concorrência se assim tiver de ser.

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Poderiam as lojas e o marketing da bicicleta contribuir para o aumento do número de ciclistas e consequente adopção deste modo de transporte? A tendência actual é que os proprietários e gestores reexaminem estratégias e conceitos para as suas lojas, em termos de oferta e de acolhimento dos clientes, como uma boa forma de aumentar o negócio e tornar a bicicleta ainda mais atraente. Implementar as mudanças de conceito necessárias para divulgar a bicicleta como uma forma adequada de transporte. Ajudar a fazer da bicicleta regularmente uma parte das nossas vidas.