de que me adianta ter asas se não puder sentir o vento!

Sai para a rua, alça a perna esquerda e sobe para o tubo superior da bicicleta. O primeiro ataque de rajada causa-lhe um certo desequilíbrio e a posição desajeitada a tentar encaixar o sapato no pedal.

Chicotadas de vento no rosto, os olhos semicerrados, o ciclista fecha o casaco até ao pescoço. Imóvel, com o peso do corpo sobre o outro pé, o cérebro é chamado para ajudar. 

Assentando levemente o rabo na ponta do selim, o pedal é puxado para cima, meia volta. Empurrada horizontalmente com um golpe de força, a bicicleta sai da sua dormência. O pé direito eleva-se do chão e, com dificuldade, calca o pedal oponente para ganhar algum impulso.

Por fim o ciclista começa a rolar para a frente, lentamente, vacilante, à procura de um caminho recto.

O arranque é vagaroso, o corpo estremece com uma outra rajada de vento lateral, do lado esquerdo, quase derrubando o ciclista da bicicleta, para a direita.

Perseverante, segurando o guiador, o ciclista vira para o vento, contrário, desafiando-o para uma competição de força. De pé, com firmeza sobre os pedais, corpo erecto, músculos activados, o ciclista se esforça para manter o progresso em resposta à mão pesada da natureza.

No ar livre, algo parece agitado. Folhas secas, pedaços de matéria descartada e objectos não identificáveis, tudo se move num poderoso redemoinho. Uma desprezada folha de jornal cola-se à canela, recusando-se a ceder, debatendo-se para evitar esvoaçar livremente.

Coxas que tremem de fadiga na competição contra uma parede invisível. Submissa, a bicicleta rola pela rua, em sincronia com a respiração ofegante do ciclista, dobrado pelo esforço e pelo atrito dinâmico.

Ora soprando da esquerda, ora ventando da direita, a corrente de ar pressiona-o, impedindo o movimento perfeito. Acelera para que mantenha o equilíbrio. É um turbilhão de velocidade, uma atmosfera sem limites.

Quase vertical agora, a mudança de direcção dá ao ciclista uma benesse. Sem aviso, a força do vento suaviza. A inércia tem o seu princípio. Um pedaço de espaço vazio, um vácuo inesperado, sem resistência ao andamento.

O vento empurra-o mais e mais rápido, impondo uma corrida favorável em confronto com a estrada. Rapidamente, as pernas ficam leves. Impelem a corrente sem esforço, consomem a energia do vento, como uma vela inflada nas suas costas. 

Planar, pedalando, rolando, desviando, a velocidade aumenta sem esforço. Ao sabor do vento.

Soltando o corpo, desprotegido através da dança da bicicleta, o ciclista chega ao seu destino, desmonta e equilibra as pernas, feliz por estar em terra firme.

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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