“João Almeida, dá-me a tua camisola”

O Giro d’Itália disputado em outubro não é normal. Um ciclista português que veste de rosa no Giro d’Itália é coisa rara. Um ciclista que veste de rosa no Giro d’Itália desde a terceira etapa e ininterruptamente pelas quinze seguintes é absolutamente inédito.

“Quem é o João Almeida”, perguntou este ciclista de trazer por casa, là em casa, à sua expert da modalidade. “É o miudo que foi chamado pela Quick Step para substituir o Remco”, diz-me a Carla. “Não sabias!? Agora ficaste a saber”. Fiquei eu e muita boa gente.

Este jovem de 22 anos, natural de A-dos-Francos, nas Caldas da Rainha, começou a fazer desporto dando uns toques na bola e umas braçadas na piscina, mas foram as pedaladas que se tornaram a sua paixão. Depois de uma breve passagem pelo bêtêtê, em 2016 o João fez-se à estrada e levou para casa os títulos nacionais de ciclismo, de estrada e de contra-relógio, na categoria júnior. A partir daí, os resultados continuaram a aparecer e, em 2018, esteve muito perto de vencer o Giro d’Italia Sub-23.

Primeiro português a vencer a clássica Liège – Bastogne – Liège Espoirs, Almeida é um jovem ciclista versátil e muito talentoso. Em 2019 teve uma temporada fulgurante, vencendo ambas as corridas no Campeonato Nacional de Sub-23, terminando como o melhor jovem ciclista no Tour montanhoso de Utah no racking top-ten. Passou naturalmente para o nível World Tour, passando a fazer parte da fortíssima Deceuninck – Quick-Step. Foi aposta da equipa para este inédito Giro em tempos de pandemia Covid-19.

Num pelotão infestado de tubarões, o nosso Sub-23 estreia-se numa grande volta de três semanas. Destaca-se desde logo com um segundo lugar no CR do prólogo. Assumindo a liderança ‘rosa’ à terceira etapa, tem vindo a brilhar nas estradas transalpinas. Já quebrou todos os recordes lusos e tem gerado uma onda de entusiasmo, virando os holofotes para si e para o ciclismo. A sua prestação, bem como a do Ruben Guerreiro da EF1, actual líder do prémio da montanha, tendo já uma vitória de etapa guardado no bolso do seu jersey azul, têm deixam o país inteiro colado aos écrans. A cada etapa, estas duas promessas do ciclismo nacional fazem por merecer todo o nosso apoio e entusiasmo. Com que o orgulho em torno das suas prestações cresça e encha espaços em telejornais, nos jornais e nas rádios.

O que o João já conquistou, mantendo a “maglia rosa” vestida por tanto tempo, é, por si só, soberbo e histórico. Escrevo no preciso momento em que se disputa a etapa rainha, com passagem pelo icónico Stelvio. Tudo pode acontecer hoje e nos três dias que faltam até Milão. Se o João Almeida for capaz de continuar a fazer o que tem vindo a fazer, manter o seu sonho cor-de-rosa, defendendo a liderança com o suporte de uma equipa algo modesta mas que o apoia e o protege do poderio das outras, qualquer que seja a sua classificação final neste Giro, este nosso herói já está há muito a gravar o seu nome na história do ciclismo nacional e mundial.

Bravo João. Bravo Ruben, vocês são o orgulho de um país.

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Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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