Todos os animais se movem; correm, saltam, voam, nadam… O movimento é parte essencial da vida. Os seres humanos costumavam viver da mesma forma.
Antes do advento da agricultura, os humanos eram nómadas, andavam muitos quilómetros por dia em busca de caça e alimento. Sempre em movimento, o Homem aprendeu a fazer as coisas por si mesmo. Com as próprias mãos construía abrigos, vestuário e utensílios de caça. A força física era fundamental para atender às suas necessidades. Completa auto-suficiência para garantir a sobrevivência.
Depois, com a agricultura, os humanos estabeleceram-se em comunidades e uma interdependência mútua começou. Surgiu uma forma colectiva de vida, com o intercâmbio de produtos, e não demorou muito para surgir o comércio. As pessoas criavam as suas próprias actividades e contavam com outras para satisfazer as suas necessidades. Coisas que queriam ter e que outros faziam por si. Dependência de terceiros.
A domesticação de animais, levou ao uso de algumas espécies como auxílio no transporte. Para além da força necessária para manter o equilíbrio montado num animal, dessa forma o ser humano movia-se sem despender do esforço. Com cada avanço social e tecnológico, o estilo de vida tornou-se progressivamente mais fácil. Se até aí os pés eram os meios principais de transporte, andar era a única maneira de ir do ponto A ao ponto B, a vida era agora mais perguiçosa.
Com a ideia do transporte sem esforço, o estilo de vida tornou-se sedentário. Enquanto os burros puxavam a carroça, a inactividade tornou-se um costume. Não fazer nada é um sinal de sucesso, sobretudo se, se pode dar ao luxo de contratar outras pessoas para fazer as coisas para e por ele. Menos actividade significava um status social mais elevado.
O automóvel foi baseado nesta ideia. Diferia sobretudo na fonte de energia, na propulsão de um motor a combustível em vez da tracção animal. Nenhum esforço era necessário para se mover de um lugar para outro. Embora isso parecesse uma boa ideia, muitas consequências negativas vieram com ela. Delas, a mais gritante é a poluição ambiental e as implicações para a saúde. A inactividade, juntamente com factores de estilo de vida mais sedentária trouxe outras maleitas.
Quase sem aviso, os seres humanos encontraram-se onde estão hoje. Além de usar o veículo automóvel como principal fonte de transporte, o Homem obtém comida a qualquer hora do dia ou da noite, apenas usando o dinheiro para comprar os seus desejos. Tudo o que temos de fazer é pagar e comer. Muitas conveniências, difícil é manter o controle de todas elas.
Este cenário transformou o mundo, onde a maioria dos seres humanos está hoje. Raramente se esforça fisicamente. As actividades giram em torno do entretenimento entre paredes. Mesmo as crianças já não brincam na rua, permanecendo imóveis, por longos períodos de tempo, com os seus dispositivos portáteis. O tempo de lazer passou para a posição sentada, sem sair do sítio. Em suma, a espécie humana como que renunciou ao ritual do movimento diário.
Agora, a fim de recuperar alguma da nossa saúde, temos de programar o tempo para o movimento. Os ginásios são exemplos desse movimento programado. E o tempo é cada vez mais escasso. Daí, tem de encontrar tempo na gestão do tempo para programar algum tempo para se exercícitar durante algum tempo. A nossa forma de viver já não se move naturalmente.
Para o ser humano algo está a faltar, e devemos lutar para ajustar algo que deveria ser uma função básica. Andar, caminhar, passear… Mover.
Felizmente, existe um movimento de retorno num determinado segmento da sociedade. É um conceito, que não é novo, e que não deveria ter que ser um conceito, mas que leva em consideração o movimento humano, alimentado na sua própria energia. Um segmento crescente da sociedade, implementado nas ruas e que não é apenas andar a pé, mas é andar de bicicleta, não apenas como exercício, mas como parte das suas/nossas vidas diárias.
Talvez, um dia, andar pedalar será tão natural para todos os seres humanos como já foi para os nossos antepassados. Pés e pedais podem fazer um retorno lembrando-nos do que nós deveríamos ter sido.