Há duas formas de começar isto. O inverno está no ar ou a primavera foi um ar que lhe deu?! Dizem os entendidos que as estações estão num estado de transição. Eu diria que é depressão e que o tal ciclone dos Açores deve ser bipolar! A natureza manda mas não lhe dou ouvidos e não permito que me obrigue a ficar a mandriar no maldito sofá.
Como é costume num rotineiro sábado de manhã, teria feito uma pedalada para treinar ou mesmo para comutar, mas não o fiz. A manhã foi reservada para uma pedalada um pouquinho mais compridota. Para percorrer estradas conhecidas e outras nunca antes pedaladas. Para pedalar com um sensível senso de lazer, numa jornada de redescoberta enquanto este primaverno transforma o azul em cinzento.
O panorama matinal era bastante nublado. Os céus nunca se abriram de maneira significativa mas a necessidade de deixar fluir as endorfinas e me sentir renovado é mais forte. A pedalada é um ritual importante para mim e nos dias em que não dá mesmo para pedalar algo parece faltar, sinto-me um pouco vazio, até culpado.
Fugir do constrangimento rodoviário, explorando novos lugares, dando outro sentido ao caminho. Pedalar por este mundo como observador constante. Porque num recanto da estrada, num lugar bem conhecido do caminho se pode redescobrir algo que outrora passou despercebido. É isso que eu adoro no ciclismo, esses momentos de uma nova descoberta.
Cruzar rotas que bem conheço com novos mundos. Proporcionar uma nova aventura, renovando a experiência. Invadir uma rota popular onde caminhantes e ciclistas procuram abrandar a vida para alcançar no seu âmago o significado dela. Viajar pelo seu próprio pé, sonhando acordado, incessantemente.