Aprender a andar de bicicleta faz parte das primeiras conquistas que temos. É uma das mais importantes aprendizagens, quase como ficar em pé e aprender a andar. Se não compreender a psicologia inserida no contexto então não entende e não sabe pedalar.
No tempo das nossas mães muitas “primeiras bicicletas” não tinham rodinhas. O curso intensivo começava nas bicicletas grandes, nas pasteleiras dos adultos com o selim a roçar o quadro. Apesar de parecer o contrário, aprender a andar numa bicicleta tão grande tem as suas vantagens. A primeira delas é a confiança na destreza do adulto que auxilia. Quando esse adulto era o pai nunca se aprendia tão depressa a técnica do equilíbrio. Sempre mais temeroso que a descendente, ele lá ia agarrando vigorosamente o guiador querendo comandar tudo. Mas quando era o tio que segurava o ombro, aprender a andar de bicicleta era diversão garantida. A segunda é o sentimento de algo conquistado, a intuição forte num corpo tão franzino querendo dominar um meio de transporte tão absurdamente desproporcionado. As demais vantagens estariam no desafio, nos tombos, dos quais se coleccionavam pequenos arranhões, nas risadas e nas horas alegres passadas em boa companhia. As aulas resumiam-se a três momentos: pedir ajuda para subir na bicicleta, começar a rodar e depois sentir um ligeiro e não tão delicado empurrão, deixando-se ir aos zigue-zagues tentando equilibrar-se. O problema era quando o movimento terminava e era preciso rodar os pedais. Para quem começava a aventura-se numa garupa de duas rodas, equilibrar e pedalar ao mesmo tempo não é tarefa fácil. E por mais que se tentava adiar o tombo era sempre certo, mas lá ao fundo do estradão havia sempre um monte de mato seco que amaciava o trambolhão. As esfoladelas não passavam de troféus, e o tio ria-se, esperando que ela se levantasse e voltasse a empurrar a bicicleta para com persistência repetir a proeza.
A teimosia e a aprendizagem possibilita a liberdade de pedalar pelos campos verdes e estradas poeirentas da vida, que a bicicleta nos permite alcançar, e que se transformaram em memórias preciosas dos jovens que somos hoje.
Não me lembro, mas deve ter sido assim, com uma diferença, ou acréscimo: foi o meu pai que me ensinou a andar na minha própria bicicleta. Acho que foi um presente de fim de ano, ou talvez tenha sido de niversário. Era um bicicleta nova, um dos poucos presentes novos de que eu consigo lembrar-me porque depois vieram mais seis irmãos para pesar no orçamento…
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