Com a devida promoção da bicicleta a veículo nas alterações previstas ao Código da Estrada, certamente muito boa gente estará entusiasmada e equacionará dar início às pedaladas casa-trabalho, e arredores.
Andar de bicicleta é a melhor opção de transporte na cidade. Pode ser, ou melhor, é uma memorável forma de viajar, uma excelente maneira de manter a forma e diversão. No entanto, andar de bicicleta comporta alguns riscos e requer exigências. Para assegurarmos a nossa segurança é importante ter uma bicicleta em perfeitas condições, ter um comportamento assertivo enquanto pedalamos, prestar atenção a tudo e a todos quando partilhamos a via com os restantes utilizadores da via, motorizados ou não. Para um ciclismo seguro e agradável deveremos ter em conta alguns requisitos, básicos mas muito importantes:
A tua bicicleta é o mais importante e antes de mais nada deves fazer uma inspecção à bicha. Especialmente necessário nas bicicletas mais usadas e velhinhas, é importante termos a garantia que a nossa bicicleta é segura e está em perfeitas condições de circulação. Deverás ter especial atenção ao estado dos pneus, tê-los bem calibrados, verificar se os travões travam bem, ver se a corrente está limpa e lubrificada. Conferir todos os apertos e afinações, garantindo assim o melhor funcionamento. Caso a bicicleta tenha problemas que não os consigas resolver, leva-a a uma oficina. Ajusta a tua bicicleta ao teu corpo. Isso é muito importante para uma pedalada segura, agradável e confortável. Tudo o que precisas de fazer é sentares-te no selim e certificares que tocas com a ponta do pé no chão. Depois é só apertar o tubo do selim na posição adequada. Se necessário, ajusta também a altura do guiador para uma posição mais confortável. Deves adicionar luzes, à frente e atrás, e reflectores caso pretendas utilizar a bicicleta à noite. Isso aumenta a tua visibilidade e te dá maior sensação de segurança.
Usar capacete é valorizado. É sempre uma boa ideia colocá-lo na cabeça e deverás usá-lo se sentires essa segurança, essa necessidade, mas perante a lei só é obrigatório para as crianças. A roupa que te veste bem é aquela que deves usar. Não dês demasiada importância a isso. O que importa é usar uma roupa confortável e garrida, que dê mais nas vistas e te faça mais perceptível. Uns elásticos ou molas na bainha das calças dão-te um certo ar trendy mas evita que sujes ou prendas o tecido à corrente. O calçado também deve ser confortável. Ter um espelho na bicicleta pode-te ajudar a perceber quando um automóvel ou bicicleta se aproxima por detrás. Um sistema de segurança U-lock ou cadeado bem resistente te dará garantias de teres a tua bicicleta bem segura quando presa a um bom bicicletário.
Em todas as ocasiões somos vulneráveis enquanto pedalamos. Obedecer às regras de trânsito e ter juízo na estrada é a melhor prática de segurança. Nem todo o ciclista conhece as regras de trânsito. Como encartado, sinto o dever de dar a conhecer as regras de trânsito, tanto como se aplicam ao automobilista como ao ciclista, e como se relacionam com os restantes utentes da estrada. Isso inclui ensinar aos mais jovens algumas regras e seguirem as noções básicas para a sua própria segurança. É importante usar o bom senso, contando com todos os nossos sentidos para nos ajudar a guiar através do trânsito com segurança. Antecipar o inesperado para reduzir surpresas.
Andar sempre na direcção do tráfego. Nunca andes na contra-mão. Para além de ilegal aumenta seriamente o risco de acidente. Antes de mudares de direcção, olha sempre à tua volta. É importante termos a percepção do tráfego, tanto à nossa frente como o que nos persegue. Aprender a ser capaz de virar a cabeça e olhar para trás, por cima do ombro sem que nos desviemos do curso, requer alguma prática. Através do treino, num espaço livre, podes adquirir essa prática de olhar para trás. Esta habilidade é essencial a qualquer momento que pretendemos mudar de direcção, para a esquerda, para a direita, e quando pretendemos fazer ultrapassagens. É importante praticar a habilidade de olhar para trás porque muitos ciclistas, até os mais experientes, não o fazem.
Não assumas riscos excessivos. Pára sempre nos sinais de paragem (semáforos e sinais STOP). Obedece aos sinais de trânsito. Não ouças música nos phones enquanto pedalas. Os teus ouvidos agem como um radar para detectar os carros que se aproximam. Escolhe uma posição de rodagem visível. Embora alguns automobilistas não entendam este comportamento, perceberás que é mais seguro para ti, pois muitos deles podem ignorar os ciclistas especialmente quando circulam discretamente junto ao passeio, na berma da estrada. Alguns condutores podem demonstrar irritação com a presença de ciclistas. Não te incomodes se buzinam, significa que te viram. Transmite calma e continua na tua pedalada segura. Já vai ser permitido andar a par com outro ciclista, mas procura não andar lado-a-lado todo o tempo, apenas aquele que for estritamente necessário.
Na comunicação com o automobilista, a sinalização com os braços e mãos é muito importante. Para informar os restantes utentes da estrada, sinaliza sempre as tuas intenções. Antes de tirar a mão do guiador, certifica-te que o caminho à tua frente está livre de obstáculos, como pedras, buracos, ou qualquer coisa que possa sacudir a roda. Quando pretenderes fazer uma viragem ou uma mudança de direcção, coloca o braço paralelo ao chão e a palma aberta, chamando a atenção. Se fores virar à esquerda, estende o braço esquerdo, e se fores virar à direita, estende o braço direito. Sinais só com o braço esquerdo foram baseados para quem conduz. Caso pretendes abrandar e parar dás o sinal de mão esquerda aberta, o cotovelo esquerdo dobrado e o braço na vertical. A sinalização não só deixa os outros prever o teu movimento como te dá uma reputação de cortesia.
Para não correres o risco de ser atingido por uma porta que se abriu de repente, quando circulares junto de carros estacionados, utiliza o centro da via ou dá pelo menos metro e meio de espaço. Claro que as pessoas devem a olhar primeiro antes de abrir a porta, mas nunca se sabe, e a nossa segurança está primeiro. Se uma porta se abre de repente à nossa frente podemos não ter tempo suficiente para reagir, e muito menos parar. Se instintivamente nos desviarmos pela abertura de uma porta, podemos guinar para o centro da via e ficar vulneráveis ao surpreender um automobilista. Não te iludas que é seguro andar numa ciclovia que está paralela a uma zona de estacionamento. A pintura no chão não oferece nenhuma protecção! Da mesma forma se estiveres a passar à direita de carros parados, cuidado com a possibilidade de uma porta de passageiro de repente se abrir, especialmente se for um táxi.
Nas ruas de sentido único, e as que são demasiado estreitas onde a partilha lado-a-lado não te é segura, não deixes que o trânsito circule demasiado perto de ti. Mesmo que receies ser a tua presença uma causa de conflito no trânsito, circula no centro da via. Isso dá-te segurança e não convida os automobilistas a tentar ultrapassar e assim te espremer. Caso entendas, sempre podes parar por uns momentos, alertá-los antecipadamente da tua intenção com sinalização gestual, dando-lhes passagem com uma margem de segurança suficiente. Compartilhar a estrada com sabedoria é um argumento forte do ciclista.
A maior parte do risco está à nossa frente, especialmente se o transito gira e cruza o nosso caminho. Quando te aproximares de uma rotunda, cruzamento ou entroncamento, independentemente da direcção pretendida, escolhe uma posição na faixa mais visível e previsível. A experiência leva-nos a adoptar com antecedência a posição adequada, umas boas dezenas de metros antes do cruzamento. Mesmo sabendo que temos prioridade, cuidado com os carros que surgem à tua direita, que entram na via virando à direita, e à tua frente. A falta de atenção de alguns condutores é evidente e como só têm olhos para o tráfego, avançam ignorando os peões e os ciclistas na via. Antes de confiar devemos sempre desconfiar. Presta atenção para onde eles estão a olhar, se estão a “descair” o carro ou se estão completamente parados. É só uma questão de tempo para que decidam arrancar. Esta é também uma razão pela qual dou espaço extra no semáforo, à frente da fila de carros enquanto aguardo a luz verde.
O famigerado “gancho à direita” é um acidente a que demasiadas vezes estamos sujeitos. Muito cuidado com os carros que passam por ti, em acelerada ultrapassagem. Quando fores ultrapassado mesmo antes de um cruzamento redobra a atenção. É bem provável que vá virar à direita e se atravessar à tua frente, às vezes sem sequer dar o pisca-pisca.
Num cruzamento ou saída de estrada, caso pretendas virar à esquerda, usa o centro da via. Se circulas em ruas de um só sentido ocupa a faixa mais à esquerda. Começa a preparar cedo a tua manobra para que tenhas tempo e espaço, sempre indicando a direcção com sinais. Caso não estejas confortável com a manobra, encosta, desmonta da bicla e atravessa na passadeira, como um qualquer peão. Nos entroncamentos onde surgem faixas de aceleração e/ou desaceleração à direita e pretendas seguir em frente, não entres nessas faixas. Antes do entroncamento, move-te para mais à esquerda e posiciona-te no centro dela. Caso não tenhas outra hipótese, atravessa com cuidado a faixa fazendo sinal do que pretendes. Muitas vezes estamos fora de visão dos automobilistas que pretendem entrar na via, no chamado “ângulo morto”.
Em geral, as ruas e estradas são mais “suaves”, tornando a pedalada mais fácil, mais rápida e mais confortável do que tentar pedalar em terreno acidentado e frequentemente obstruído. A melhor via para circulares é aquela que te serve os intentos e que assegura as condições de segurança que para ti são as convenientes. Percebe quando deves andar na estrada, na berma ou na ciclovia. Nunca deixes que os engenheiros decidam por ti. A preferência será tua e será a tua consciência que determinará qual a via que te convém. Não circules demasiado perto dos passeios que tendem a acumular muitos detritos. Procura estar atento às tampas de saneamento, rampas e buracos. Geralmente as bermas são estreitas e perigosas, embora em alguns casos até são largas e mais seguras.
O uso das ciclovias será preferencial, isto é, caberá ao ciclista decidir circular por lá. Geralmente são oportunas quando nos levam ao destino pretendido. O ideal seriam as largas, bem planeadas, bem assinaladas e livres de peões ou animais, mas sabemos que nenhumas são assim. Sendo de boa utilidade, nem sempre foram pensadas e construídas da melhor forma, ficando o ciclista mais vulnerável a potenciais perigos. Principalmente para uma pedalada de lazer ou relativamente lenta, circular na ciclovia que existe junto à estrada é preferível. Os peões pisam descuidadamente as ciclovias e os condutores muitas vezes atravessam-nas sem cuidado quando entram e saem de parques ou garagens. O ciclista é facilmente esquecido. Sempre que te aproximares de alguém que circula a pé e de costas para ti, usa um aviso sonoro como a campainha. Evita andar de bicicleta no passeio. Geralmente, não é uma boa ideia, embora seja por vezes a única opção compartilhá-lo com os peões.
Mesmo em condições adversas de chuva e frio é perfeitamente viável que te desloques de bicicleta. Toma especial cuidado ao andar de bicicleta em condições molhadas. Na bicicleta um par de guarda-lamas fará toda a diferença. Um vestuário impermeável, dos pés à cabeça, te deixará enxuto. Se são as primeiras chuvas, certamente o piso estará impregnado de óleos e gorduras, o que o torna potencialmente escorregadio. Portanto, não te inclines em demasia ao descrever as curvas e tem especial cuidado passar sobre as marcações do piso e as tampas metálicas.
As crianças aprendem rapidamente a se equilibrar numa bicicleta. “É de pequenino que se torce o pepino”, já diz o povo, mas compete aos adultos, aos pais, ensinar as crianças a andar de bicicleta com segurança. Procura ensinar os teus filhos a andar de bicicleta com segurança num lugar completamente seguro. As ciclovias não são certamente o melhor local. Deixa que as crianças aprendam ao seu próprio ritmo e oferece-lhes muito incentivo. Sê paciente em todos os momentos. Elas vão cair, fazer um drama, e deverás estar preparado com abraços e prosa motivacional para levá-los a tentar de novo. Certifica-te que as crianças devem usar sempre um capacete ao andar de bicicleta. Mesmo que não o queiram usar, na bicicleta devem sentir o capacete como uma “segunda natureza” para eles. Devemos explicar às crianças que andar de bicicleta comporta riscos e exigências. Como pessoas responsáveis pelo bem-estar dos nossos filhos, cabe-nos ter tempo para os ensinar, aconselhar e com eles pedalar em segurança. Podemos por exemplo ajudá-los a escolher rotas seguras para pedalarem até à escola e outros lugares. Poderá haver perto de casa, na tua área, locais onde dão aulas de educação na bicicleta. São pessoas com experiência, habilitadas a ensinar outras pessoas a andar de bicicleta e a fazer um ciclismo seguro e eficaz.















Está excelente Paulo. Um texto simples que de uma forma, descodifica o código da estrada para uma linguagem mais natural e perceptível ao comum dos mortais, mas ao mesmo tempo faz o que nenhum código consegue fazer, explicar a sua essência e razão de ser.
Só uma correcção, não há qualquer obrigatoriedade de uso do capacete, nem mesmo para crianças.
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De facto Tiago
Em rigor, o que prevê o Artigo 91 para o transporte de passageiros em velocípedes: no seu nº 1: “Nos motociclos, triciclos, quadriciclos e ciclomotores é proibido o transporte de passageiros de idade inferior a sete anos, salvo tratando-se de veículos providos de caixa rígida não destinada apenas ao transporte de carga”…
3 – “Exceptua-se do disposto no número anterior o transporte de crianças em dispositivos especialmente adaptados para o efeito, desde que utilizem capacete devidamente homologado.”
Na nova redacção do CE o ponto 1 mantém-se inalterável e o ponto 3 passa a ser omisso à obrigatoriedade do uso de capacete: 3 – “Nos velocípedes a que se refere a alínea b) do número anterior, deve ser garantida proteção eficaz das mãos, dos pés e das costas dos passageiros.”
Pronto, de qualquer forma na minha opinião os pais terão sempre a obrigatoriedade moral de adequarem a segurança e preservarem a integridade física dos seus filhos, sempre que com eles saírem a pedalar. Um capacete na moleirinha das crianças será sempre indispensável.
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