“E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa”

Foi com este pedaço de prosa do grande poeta Carlos Tê a ecoar na minha cabeça, eternizado no Porto Sentido do grande Rui Veloso, que aqui cheguei e aqui parei, quedo e calado, junto ao Douro com aquela sensação de sempre, da primeira vez. Depois de inspirar fundo o aroma da maresia, que se sentia, depois de seguir o rio deixando-me empurrar pelo movimento no regresso ao meu porto de abrigo, por estes caminhos de solidão, por este cruzeiro portuense, aqui gosto de abrandar o ritmo e apreciar o casamento perfeito do rio e das azáfamas. Aqui o tempo passa devagar, ritmado pela própria cadência do Douro que parece contrariar o burburinho da cidade. Aqui fico a assentar ideias, a libertar pensamentos, a alongar o tempo um pouco mais numa espécie de melancolia mas também num impulso contra o relógio. Mas o relógio não me deixa envolver pela preguiça e me desopila da letargia para retomar o meu caminho… Ela, ignóbil bisbilhoteira, adora lá estar, a viajar suavemente pela cósmica visão de um caminho de estrelas, sem para-quedas nem passaporte, invadindo o espaço cósmico e levando-me consigo, alapado no seu selim, como se fosse num qualquer vai-vem buscar o desejo, o despique com o vento e a conquista das estradas, nesta deslumbrante liberdade que é pedalar.


![fotocycle [278] Pai Natal e o Avô já pedalam pela cidade](https://i0.wp.com/dgtzuqphqg23d.cloudfront.net/H0p3Qixkh6ytZQv4wRWnbw6iA2MHlcZzCllVPb3MSq8-2048x1536.jpg?resize=200%2C200&ssl=1)














Reblogged this on Das Culturas.
GostarGostar