Para começar pega uma bicicleta, qualquer uma, mesmo aquela bicla velha de pneus vazios e corrente enferrujada que tens há muito esquecida. Enche-lhe os pneus, unta-lhe a corrente, monta-a delicadamente e impulsiona os pedais. Dizes que vais ficar com as pernas e o rabo doridos. É bem provável, mas o meu palpite é que ela te vai fazer recordar o tempo de criança, livre, explorando o mundo e arredores com os teus amigos. Dá-lhe um par de semanas sentado no selim e verás como o teu corpo se vai adaptar a ela. Pedalar é a actividade perfeita, permite que estejamos ao ar livre, respirar ar puro, ver a cidade, o campo, chegar perto, partilhar bons momentos com os amigos e manter-se apto, sem stresses.
Para mim, o ciclismo sempre foi uma aventura. Toda vez que saio para um passeio com alguma das minhas biclas vejo algo que nunca vi antes. Para mim é mais do que o exercício, é o meu bem-estar, é a minha terapia, e é meu estilo de vida. Às vezes me perguntam porque passo tanto tempo a pedalar. A resposta não é tão simples como pode parecer. Eu gostaria de ter uma resposta rápida, uma única frase que resumisse o que é para mim a velocipedia, mas a resposta que tenho para dar é longa como a razão pela qual eu gosto tanto de andar de bicicleta. Mesmo assim vou compartilhar com vocês.
Eu adoro a sensação de liberdade que sinto quando estou a pedalar as minhas bicicletas: a velocidade, a inclinação, o movimento para a frente, as vibrações e o vento no meu rosto. Há uma mudança constante de cenário, posso ver, sentir e cheirar. Gozar do que a liberdade traz consigo, uma sensação de autonomia, um senso de aventura. Mesmo que já tenha viajado antes pelas mesmas estradas, muitas vezes eu tenho a mesma sensação de exploração semelhante a quando eu era criança e pedalava a minha primeira bicla pelas ruas do bairro. Então, como agora, eu podia sentir a Terra girar sob o meu corpo, quase como se a minha pedalada é que a fizesse rodar no seu eixo.
Eu gosto da simplicidade da bicicleta. Esquece por um momento a geometria do quadro, a quantidade de mudanças, o tamanho do pedaleiro, a largura dos pneus e todos os palavreados técnicos. A bicicleta é uma estrutura simples com duas rodas que devem ser movidas pelo fogo dos músculos. Um fogo sem fumo. Há algo organicamente gratificante sobre o acto de usar a própria força para me empurrar. Foi emocionante quando eu tinha 6 anos e é altamente agradável agora que cheguei aos 46.
A bicicleta oferece-me tempo. Tempo para alcançar, para conhecer, para acompanhar ou ficar sozinho. Eu posso escolher entre a necessidade de me deslocar ou simplesmente aproveitar para pensar sobre todas as coisas, desfrutar do mundo e todos os seus elementos. Para mim, um passeio de bicicleta é muitas vezes um momento em que eu posso gerar ideias, procurar uma maneira melhor de fazer as coisas, sonhar com novas abordagens para a felicidade. A minha bicicleta é o meu refúgio, o meu compromisso para uma saúde melhor. É a minha religião. É a antítese entre ficar enclausurado numa cápsula de anonimato ou, de um modo peculiar, manifestar os meus sentimentos ao mundo.



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excelente artigo!!
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