A nova loja do Mercado Municipal de Matosinhos quer ser o santuário da cultura da bicicleta, das novidades ao vintage.
Caminhar pela zona portuária da cidade de Matosinhos pode ser uma experiência de realidade paralela. Ao longo da paisagem as bicicletas estacionadas amontoam-se. Ao longe, na ponte móvel, passam como bandos de ciclistas intermitentes a completar a paisagem, pelotões muito longe do prémio da montanha mas com o espírito todo nos pés. E quem se aproxima da “Velo Culture” corre o risco de se sentir automaticamente parte destas corridas.
“Tudo isto é paixão pela bicicleta e isso é cultura.” Este é o lema dos donos da loja, três sócios criados no seio do activismo da mobilidade sobre rodas e bloggers influentes na cultura do pedal portuense. Falamos de Sérgio Moura, arquitecto, Hugo Cardoso, jornalista, e Miguel Barbot, consultor. Dizem que a paixão em comum os uniu mas que foi a danada da crise a servir de gatilho para a loja, aberta ao público depois de menos de um mês de preparações.
“A nossa loja é muito diferente das outras porque é destinada a quem gosta verdadeiramente de bicicletas, não como desporto, mas pelo objecto em si.” Miguel Barbot, responsável pela imagem da Velo, garante que nestes primeiros meses de existência já tiveram todos os tipos de público, mas o seu preferido é o “utilizador diário”, aquele que “mais dá valor à estética e alma da bicicleta”.
Na Velo Culture os velocípedes são mais do que simples de guiadores+pés-nos-pedais+rodas. Há modelos clássicos, bicicletas novas inspiradas nas antigas ou até as utilizadas há décadas atrás pelos mensageiros e estafetas – tudo inspirado no espírito velo, claro, mais do que um gosto pelo objecto vintage, um estilo de vida sobre rodas sem motor – e coisa mais na moda é difícil.
Os critérios de selecção para os modelos em loja são simples: nada de monos e nada de comum. “Não vendemos aqui qualquer coisa” é o imperativo, e as bicicletas de supermercado estão proibidas. No interior podemos encontrar bicicletas de cidade, altas, de quadro largos e traços clássicos. Não faltam também acessórios, materiais diferenciados e até uma marca de roupa própria. “Trabalhamos com especialistas que nos fazem produtos de artesanato de alta qualidade, baseados na tradição portuguesa.” É o exemplo dos cestos de carga, objectos originais de valor acrescentado, com forros diferenciados e aplicações em pele para os mais exigentes.
Já na roupa, a ideia passa por conjugar o uso diário e informal com a utilidade móvel. “Para nós faz todo o sentido ter roupa porque somos acima de tudo uma loja de estilo de vida.” Barbot dá o exemplo da roupa de mulher, vestidos de cortes modernos e toque casual. “A ideia é não ter que mudar nada, ter sempre alguma aplicação que torne o uso da bicicleta mais fácil.”
Apesar da aposta decidida neste novo conceito, os responsáveis garantem não querer inventar a roda. “O espírito velo representa um certo catecismo da bicicleta, vamos continuar a militar a cultura do ciclismo feito de suor, sangue e lágrimas”.