com a sensação de que não estamos sozinhos


A manhã de Domingo é fértil em sensações, principalmente à beira rio quando combinada com uns amenos raios de sol e as cores do Outono, a motivação multiplica-se nos quilómetros pedalados. Ontem, na companhia do meu amigo Rui fizemos um passeio descontraído, desta vez sem pressas, e deixamos que as bicicletas viajassem por conta própria. No regresso separei-me dele, na Ribeira, para depois pedalar sozinho ou ao longo das belas praias gaieneses até à confortadora casa paternal, na Praia da Madalena.

Mesmo sendo um passeio a sós, na realidade nunca pedalamos sozinhos. Olho para os lados, para a frente e atrás de mim, e só vejo companheiros de pedalada. Conhecidos ou não, dou-me conta de que somos muitos e que, portanto, esta nossa solidão pode ser domada através da saudação, da palavra e da entreajuda.

Após passar no Cais Gaia, na rotunda junto aos armazéns de Dona Ferreirinha, vi um ciclista apeado que inspeccionava atento a sua bicicleta. E que bicicleta! O Sr. Tito é um aficionado das biclas e nas manhãs de Domingo gosta de fazer longos passeios a pedal , só ou em boa companhia. Por vias travessas, ontem acabei por me tornar o seu companheiro de pedalada.

Ao passar junto dele, parei e indaguei se precisava de assistência. Pois precisava, a sua bela bicicleta cheia de fibra não rolava. Ambas as rodas estavam empenadas de tal forma que esbarravam nos calços dos travões. – Não sabe o que me aconteceu! Uma sujeita veio do parque para cima de mim, atrapalhou-me, deitou-me ao chão e passou com um pneu do carro em cima das minhas rodas. – E ela não parou? – Nem sei se me viu! Felizmente o Sr. Tito estava bem, mas tal como as rodas, o seu ânimo estava feito num oito. – Ah, sim, tenho aqui a matricula.

Para continuar a pedalar até casa a solução encontrada foi desapertar um dos calços para que as rodas rolassem livres. Acompanhei-o e animei-o o quanto pude. Conversamos sobre bicicletas, percursos de vida, contei-lhe o que me motivava ao usar a bicicleta no dia-a-dia. Ia encorajado-o e travando-lhe o embalo da gravidade (agarrando-lhe o bolso da licra), pretendendo engrandecer o seu passeio. Chegado ao meu destino, o Sr. Tito teria ainda de pedalar sozinho até à Granja. Prontifiquei-me a acompanha-lo no resto do percurso, mas logo me desincentivou. – Já não sou novo para isto, as pernas custam a obedecer, mas devo-lhe confessar que sempre tenho vontade de pedalar, sem outro destino do que avançar e superar as minhas limitações. Eu vou devagar, esteja descansado, e vou com a sensação de que não estou sozinho. E despediu-se com um sorriso, pedalando a sua bicicleta carota, torta e destravada.

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About paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.