Aqui, pelo Porto e arredores, temos muitos percursos “rolantes”. Há muitas subidas é claro, algumas demasiado íngremes, que as evito, mas, regra geral, a maior parte são por mim escaladas com relativa facilidade.
Eu entendo. Para qualquer ciclista que pedala para cima e para baixo, todas as mudanças que puder ter na bicicleta fazem muito jeito. Em todas as minhas bicicletas tenho um carreto e desviadores prontos para facilitar a pedalada, atendendo às vontades dos meus músculos.
Bem, todas as minhas bicicletas excepto uma, Sua Alteza Velo Invicta, que muito tenho usado e abusado nos meus recentes comutes diários.
Um par de semanas atrás, subia eu a Estrada da Circunvalação na minha bicicleta singlespeed. Na subidinha antes do semáforo do Hospital da CUF, atrás de uma fila de carros no ralenti, surge à minha esquerda um “estranho” ciclista montado na sua moderna bicicleta de fibra de carbono, batendo nos shifters.
Homem redondo, inclinado sobre o guiador e com um olhar grave, parecia que estava a subir uma montanha de categoria especial. Prestes a engolir um dos pulmões, e dando graças à pausa da pedalada, solta um palavrão e, desajeitadamente, solta também um pé dos pedais pousando o cleat no asfalto.
Olhando para o meu cubo traseiro, exclamou: “Old school, hein?” É fixie?”
– Não, não é fixa mas é fixe, retorqui.
“Então, essa baique é feita de aço?” “É preciso pernas, hããã?” “Bela bicicleta, mas não é pra mim!”
Depois veio mais um interrogatório de quem vangloria as novas tecnologias. Obrigado, retribuí diversas vezes.
De facto, a bicla do sujeito parecia ser daquelas último modelo, incrivelmente leve. Pelo menos, teria menos da metade do peso da minha. Seja como for, não é para o meu bolso, mas agi como se estivesse devidamente impressionado com a máquina, como aqueles viciados em gadgets, peritos no último grito tecnológico das baiques.
– A sua é daquelas com mudanças electrónicas, mas parece-me estar dessincronizada”
E, de facto, era e estava. Sem pilhas, a baique xispêtêó do sujeito mais não era que uma ostentosa singlespeed na roleta de uma qualquer mudança marada… ou pesada, na qual tivesse ficado presa.
O karma é uma coisa estranha… e lixada.