Como é costume, depois do trabalho estou a pedalar de regresso ao lar, antes que o sol se deleite no oceano. Apesar de resplandecente, a tarde estava um pouco fria. Maldita nortada. Em busca de um quebra vento, saio da rua e sujeito os pneus ao caminho ondulante do Parque da Cidade, circundado por árvores e passarada. Deixo o meu rastro marcado na terra humedecida. Contemplo e rodo, em modo câmara lenta.
O sol estava se entregando, mas a minha camada superior já me aquecia e um fulgor de transpiração brilhava na minha testa. Um banco de jardim no meio do verde torna-me o passeio mais longo do que o previsto. Ali, o tempo parece dar um tempo. Luvas para fora. A pausa para relaxar e absorver a iluminação deu-me a oportunidade de inclinar a bicicleta e tirar-lhe mais uma fotografia.
Eu adoro esta hora do dia mais do que qualquer outra: a quietude, a solidão, a Lua que lentamente cresce. Ouvi dizer que naquela noite a sombra da Terra fará o seu brilho desvanescer!Não acordei para ver.
Retorno ao selim e esboço o regresso a casa, desenhando linhas no chão, continuando perdido em devaneios, seguindo as sombras que cresciam rápidas. Sem pressas sigo a cidade, explorando ruas escurecidas e esquecidas, de paralelo e asfalto lascado, onde poucas pessoas parecem coabitar. Ainda há muito inverno de sobra. Os dedos frios e o pingo no nariz dão um senso de alerta. Retrocedo e acelero a cadência. Abandonadas no banco de jardim, reencontrei as minhas luvas e lampiões, tristes e sós!