Se os seres humanos não tivessem baseado a rotina das suas vidas de acordo com o tempo não teríamos problemas associados ao dia e à noite. Viveríamos as nossas vidas de acordo com os nossos próprios ritmos, quando comer, quando dormir, quando acordar, quando sair para trabalhar… Eu prefiro o horário de verão, quando os dias são mais longos e iluminados, mas a Natureza guia-nos à luz da sua lei e só nos resta estar em sintonia com ela. Apesar de ainda estar algum calor, lentamente, vão sendo deixados para trás os grandes dias de verão e para manter o máximo de luminosidade entre o nascer e o pôr-do-sol lá tivemos novamente de atrasar os ponteiros dos relógios. O ciclo natural do tempo lembra-nos que estamos novamente a caminhar para o Inverno. Infelizmente, no mundo moderno, todos vivemos as nossas vidas em uníssono. É uma questão de sobrevivência. Somos governados por um regime de contagem do tempo. Sem a sincronização da sociedade jamais teriam inventado os despertadores, cujo único propósito é nos acordar artificialmente para o início do dia. O ruído nos impulsiona para a acção, arrasta-nos para fora da cama, muitas vezes quando ainda está escuro lá fora, porque o relógio diz que é “de manhã.”! Assim, podemos enganar os nossos corpos e pensar que vivemos em harmonia com a ordem natural das coisas.
Um ciclista experiente está preparado para pedalar na escuridão. Quando os seus trajectos, matinais ou do fim do dia, são feitos na escuridão, recorre à iluminação artificial para o ajudar a clarear o seu caminho, impedir de andar sobre destroços ou desviar de obstáculos que surjam no seu caminho. Quando a iluminação das ruas é forte o suficiente para enxergarmos bem, mesmo assim, para nos proteger de coisas à espreita em cada cruzamento, dá jeito usarmos uma vestimenta reflexiva que nos torne mais atraentes, para que os automobilistas e peões nos detectem e identifiquem. Pedalar na escuridão absoluta também pode ser misterioso e ofuscante. Não desgosto, só me torna mais lento e cuidadoso, porque eu quero descortinar o piso onde coloco as rodas, ver bem o que se passa à minha frente, adaptando a minha velocidade à minha capacidade visual. Depois de um tempo os olhos ajustam-se à visão nocturna e fico mais alerta. Os detalhes estão escondidos e a iluminação escassa lança sombras amorfas, mas pedalar à noite tira-me o sono. E enquanto o Outono me oferecer umas horas extras de luminosidade, vou aproveitar o bom tempo. Afinal é só esperar oito semanas para o solstício de inverno e voltar a ver os dias a alongar, para no último domingo de Março voltarmos a adiantar os relógios em sessenta minutos.