Nas minhas voltinhas quotidianas pelo Porto e arredores já não estranho o imparável número de turistas que à minha frente vagueia de nariz no ar e mapa na mão. Há o turista de massas, com massa, hotel marcado e guia turístico em segway; há o turista desprendido, que quer gastar pouco e devaneia pela cidade por sua conta e risco; há o turista alternativo, lowcost, tipo pelintra backpacker. Mas o que eu quero falar é do subgrupo dos turistas de bicicleta: dos que alugam bicicletas para alargar perímetro e melhor conhecer a cidade, e dos que fazem do cicloturismo um modo de vida, chegam de bicicleta de bué-bué longe com a casa às costas.
A bicicleta é geralmente vista como uma actividade recreativa e só depois como meio de transporte. Consequentemente, os argumentos para a sua aceitação na sociedade são frequentemente tidos em conta por essa ordem, o que muitas vezes leva os “não-ciclistas” a ver os investimentos em infraestruturas para a bicicleta como só beneficiando um pequeno número de pessoas. Dizem esses que o “dinheirinho dos seus impostos”, está a ser mal empregue! Pois acho que também deveríamos pensar no que podemos oferecer aos turistas quando se advogavam os benefícios da bicicleta. A promoção do turismo de bicicleta até poderia ser capaz de convencer os “não-ciclistas” a ver o investimento em equipamentos para os ciclistas também do seu interesse. Como é frequente o caso cá nesta terrinha à beira mar plantada, não é nenhuma surpresa ver a resistência à construção de ciclovias ou espaços adequados ao parqueamento de bicicletas. Alguns contestam, reclamam porque dizem não querer pagar por algo que não vêem como sendo para o próprio usufruto. Já essa mentalidadezinha é menos comum em outras partes do mundo, onde o investimento em infraestruturas ao transporte alternativo é considerado como existente para o bem-estar de todos.
Mas voltando ao turismo de bicicleta, é o cicloturismo que primeiro vêm à mente como a principal forma de turismo de bicicleta, mas nem sempre é esse o caso. Uma grande percentagem de excursionistas viaja de avião ou chega aos destinos turísticos de automóvel. Então, devidamente hospedados, alugam bicicletas para curtos passeios ou utilizam os sistemas de partilha de bicicletas nas cidades que os possuem e pedalam pela cidade, palmo-a-palmo, com roteiros turísticos na mão. É frequente ver turistas que chegam de autocaravana, onde transportam várias bicicletas que satisfazem com eficiência as suas necessidades de mobilidade quando a “casa” está estacionada.
Os viajantes de bicicleta, cicloturistas de longo curso, tendem a procurar vias de tráfego reduzido, ciclovias, ecovias e estradas rurais, cruzando pequenas cidades e aldeias remotas onde costumam parar, pernoitar, permanecer por uns dias, o que tem algum impacto económico particularmente significativo nas pequenas comunidades e empresas locais. O seu modo de vida adapta-se facilmente à cultura das localidades por onde passa e visita. Ainda assim, se houvessem mais vias cicláveis, locais de alojamento e abrigo “bikefriendly”, lojas/oficinas de bicicletas, maneira fácil de oferecer dados sobre as regiões por onde passam, mapas com rede de percursos e indicação de instalações desse tipo, certamente fariam do cicloturismo uma actividade mais confortável.