“stop. a vida parou ou foi o automóvel?”

Desde novinho, ainda eu viajava no banco de trás do Fiat 600, aprendi a identificar a placa octogonal vermelha com quatro letras em branco e que indica paragem obrigatória (um triângulo invertido colocado dentro de um sinal circular onde constava a inscrição “Stop” foi usado durante anos). Desde crianças que todos fomos familiarizados com esse sinal de trânsito e o anglicismo inerente à palavra . Sendo um termo inglês, tem um significado universal e é conhecido praticamente em todo o mundo. Depois, com a licença de condução ainda verde na carteira, cumprimos religiosamente o código quando, ao volante, nos aproximamos de um desses autoritários STOP. Mas, com a prática e o consequente “à vontade”, o cumprimento vai abrandando. Às vezes, ao nos aproximarmos de um cruzamento, apenas calcamos o travão no último segundo. Olhar à esquerda, depois à direita, e, se não vier ninguém, então engrenar a primeira e voltar a acelerar. Se conseguirmos ver se caminho está livre, esquecemo-nos de parar ou, melhor ainda, de dar prioridade a quem a tem. A pretensão de obediência por vezes torna-se inconveniente. Nos sinais de stop, semáforo vermelho ou passadeira, alguns automobilistas hesitam, espreitam, reduzem a engrenagem mais para ver se a polícia está à vista do que para cumprir a regra, como se a simples presença da polícia o obrigasse!  

BikevsBike Photo David Niddrie

Bike vs Bike, Photo David Niddrie

O sinal de paragem obrigatória representa mais do que parece. Mais do que nos fazer parar evitar um acidente, impõe-nos civismo, faz-nos recordar que estamos a jogar um jogo com a vida dos outros. Como ciclistas, devemos desenvolver o hábito de olhar para todos com desconfiança, principalmente nos cruzamentos. Mais agora, que não somos obrigados a ceder prioridade quando nos apresentamos pela direita, mas todos os veículos que se aproximam de um sinal de stop têm de parar. E eu presumo sempre que não vão parar. É raro o dia que testemunho automobilistas a falar ao telemóvel, na conversa com o passageiro do lado, a olhar para algo perdido no interior do carro. Até a comer ou a retocar o rímel no espelho retrovisor. Sinais que não estão a adoptar uma condução segura e que não estão minimamente atentos. A medida cautelar é soltar um pé dos pedais e preparar uma travagem de emergência, ou uma manobra rápida de evasão para evitar o encontro indesejado com a chapa de um carro. Por força do hábito, chamo a atenção dos automobilistas, mesmo que isso os irrite. Seja como for, na estrada, na nossa direcção, num cruzamento, quando não tivermos um sinal de Stop pela frente, nunca confiar. Quem nos diz que eles vão parar? E se não podem parar?!

stop

ndr: “Stop. A vida parou. Ou foi o automóvel?”, é de  leitura obrigatória o artigo de Carolina Toneloto: “O trânsito das grandes cidades faz com que a vida pare como no poema de Carlos Drummond de Andrade. Como viabilizar a mobilidade urbana sem causar tantos danos às pessoas, às cidades e ao meio ambiente?”

 

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Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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Uma resposta a “stop. a vida parou ou foi o automóvel?”

  1. Reblogged this on Matemática em Sobral and commented:
    e aí é uma m*. Venho com todo o gaz, correndo, cheio de energia cinética, ter que parar? poderiam haver sinais inteligente para detectarem a presença de ciclistas fechando o trânsito para os carros no sentido perpendicular. Para os cilistas não precisava fechar – nos nos entendemos muito bem!

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