reciclando [22] espécie de análise crítica e porque não autocrítica

pare, escute e olheObservando o comportamento dos outros enquanto pedalamos, damos conta que também nos comportamos de uma forma inadequada: passamos o vermelho, pedalamos com imprudência em contra-mão, importunamos as pessoas nos passeios. De igual forma, como quando conduzimos (e sem querer!) usamos o telemóvel, não damos o pisca ou estacionamos o carro em qualquer lugar. Em quê, afinal, o comportamento dos ciclistas difere do comportamento dos condutores dos demais veículos? A resposta é óbvia, mas a sociedade ainda não trata a bicicleta como um elemento válido do trânsito. Não apenas a legislação e a ética desaprovam certo tipo de comportamentos dos ciclistas, como os próprios comprovam que são os que menos infringem as regras estabelecidas. No entanto, temos de admitir que agindo assim, não apenas aumentamos os riscos como damos fundamento a quem nos critica e nos tenta expulsar da via pública.

Pedalar é um acto mecânico e intuitivo. Quando aprendemos a manter o equilíbrio em duas rodas estamos aptos a pedalar. Mas que formação ou instruções obtivemos para alargar as nossas pedaladas pelas ruas e estradas? Não podemos esquecer os jovens e adultos sem instrução rodoviária que usam a bicicleta para a mobilidade urbana. Os ciclistas aprendem a andar de bicicleta no trânsito das cidades e, portanto, observam o comportamento do condutor no trânsito que se caracteriza mais pela disputa por espaço do que pela partilha da via pública, mais pela imposição da força do que pelo respeito e cuidado com os demais utilizadores da via. Antes mesmo de estarmos habilitados a conduzir, fomos observadores atentos do comportamento dos nossos pais enquanto condutores e, bem ou mal, fomos sendo educados pela sua forma de conduzir e de interagir com os restantes utilizadores da via.

Infelizmente o carro continua a ter mais prevalência na rua do que aquele que anda a pé, de bicicleta e de transportes públicos. Podemos contribuir para modificar este estado de coisas dando o exemplo com o nosso comportamento assertivo. É fundamental que os ciclistas tomem mais cuidado nas ruas, obedeçam à sinalização e contribuam para a moralização do trânsito. Claro que, mesmo se a totalidade dos ciclistas amanhã de manhã passe-se a respeitar todas as regras, os problemas e dificuldades que enfrentam na mobilidade urbana iriam se manter: a má qualidade das ruas, a falta de estacionamentos para bicicletas, a escassez de ciclovias (as que existem e não levam a lado nenhum) a sinalização viária que é direccionada aos motorizados…

Quem pode criticar o ciclista infractor é o ciclista. Os ciclistas não irão mudar o seu comportamento com tangentes e buzinadelas. Os ciclistas comutarão a sua conduta quando o respeito, a mentalidade do condutor e do gestor público mudar. Aquilo que é chamado de “mau comportamento” do ciclista não deixa de ser uma consequência dos problemas e dificuldades que ele enfrenta na via pública. No que estiver ao nosso alcance podemos e devemos criticar quem coloca, e se coloca, em risco, mas devemos sobretudo agir para a humanização e sustentabilidade da mobilidade urbana. Incentivar medidas pró ciclismo, debater e orientar questões voltadas para o comportamento seguro, legal e ético do ciclista no trânsito, educar os condutores, fiscalizar, etc. Se a crítica não abordar o modelo de sociedade em que vivemos e não contribuir também para a sua mudança, não temos mais do que meras reclamações e acusações.

Sobre paulofski

Na bicicleta. Aquilo que hoje é a minha realidade e um benefício extraordinário, eu só aprendi aos 6 anos, para deixar aos 18 e voltar a ela para me aventurar aos 40. Aos poucos fui conquistando a afeição das amigas do ambiente e o resto, bem, o resto é paisagem e absorver todo o prazer que as minhas bicicletas me têm proporcionado.
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apenas pedalar ao nosso ritmo.

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