Não é por ser pai, ciclista, de filho ciclista. É como cidadão que se move a pedais e que não consegue ficar indiferente à recente onda de notícias trágicas de atropelamentos de pessoas em bicicletas na estrada. De todas as mortes que têm acontecido, desafortunadamente demasiadas, deixam-me triste e apreensivo. A mais recente deixou-me arrepiado.
O título deste post não diz tudo. Embora as leis de trânsito actuais tenham sido concebidas dando a prioridade aos veículos a motor, é um pressuposto falso dizer que assim seja porque são veículos mais rápidos e que devem ter a supremacia na via pública. Não é o tipo de veículo que conta, é a ordem nas estradas. As leis de trânsito deverão ser ponderadas para controlar um determinado tipo de veículo, para criar ordem e cooperação entre os utilizadores da estrada. A maioria dos acidentes rodoviários é causada pelo desrespeito constante das regras de trânsito, negligência e desatenção dos automobilistas. Independentemente do tipo de veículo, o desrespeito individual nas estradas tem correspondência na maior probabilidade de ocorrerem acidentes, o que responsabiliza também todos os que partilham as estradas, como os peões e os ciclistas.
Com o aumento das bicicletas nas estradas, teremos de intensificar a discussão como as leis de trânsito deverão ser adaptadas às bicicletas. Mas a quantidade de bicicletas a circular nas estradas não é a questão. A questão essencial do problema é como educar os automobilistas. Os números assombrosos dos acidentes rodoviários, atropelamentos e das vítimas mortais resultantes são assustadores. A revisão de algumas das regras da estrada iria consideravelmente proteger os utentes mais vulneráveis. Exigir que se tornem muito mais atentos e respeitem a presença dos outros nas ruas. Reduzir os limites de velocidade dos veículos. Intensificar a fiscalização à condução ilegal, sob o efeito do álcool. Agravar as coimas e penas aos infractores. Ao estabelecer-se uma nova regulamentação que proteja e se assegure do cumprimento das regras básicas, do 1,5m de espaço nas ultrapassagens dos ciclistas, sobre quem tem afinal a prioridade na mobilidade, o transporte limpo ou o poluente, um julgamento menos individual é necessário para garantir estradas seguras e reduzir a prevalência do que reflete a cultura do automóvel. Precisamos de bicicletas como um meio de transporte mais seguro por todas as razões e pelo valor que elas trazem. Promover e incentivar a bicicleta como modo de transporte. Planear a cidade ao transporte suave.
Como ciclista, um dos meus objetivos ao pedalar é também demonstrar que a bicicleta é um dos modos mais eficazes e alternativos aos veículos a motor. Utilizar este meio fantástico de divulgação para promover a segurança e a cooperação entre os carros e as bicicletas. Devemos ter a noção de que a cooperação é necessária, e eu acredito que é possível. A partilha, segura e eficaz da estrada é muito mais provável de acontecer quando ambos seguem as mesmas regras da estrada. Não é suposto que nos convencem que são os ciclistas o foco do perigo. Ouço e leio comentários que alguns dos ciclistas têm comportamentos incumpridores das regras. O que acontece muitas vezes é que esses ciclistas estão apenas a tentar salvar o coiro. Todos somos testemunhas diárias que alguns automobilistas são impacientes, agressivos e com pouca consideração para qualquer tipo que o aborreça. Tendenciosos contra os ciclistas, são encorajados a acreditar que as bicicletas oertencem a uma terceira categoria nas ruas. Gabam-se com sinistro orgulho que desrespeitam deliberadamente as regras e incentivam um comportamento irresponsável, infringindo a lei. Que para eles as bicicletas são intrusas e não deveriam estar ali a partilhar a rua. Eu acho que seria muito melhor que todos os veículos em movimento obedecessem às mesmas regras da estrada. Se todos seguissem essas regras, haveria muito menos acidentes.
Por mais que alguns de nós gostariam de definir as bicicletas como diferentes, com o direito a consideração especial, devemos focar a nossa intenção em que todos temos de partilhar o mesmo caminho. Devemos nos esforçar em ter um sistema unificado de utilização em estrada. Caso contrário, teremos tristezas onde habitualmente desfrutamos de alegria. Para efetuar a mudança, os ciclistas devem se tornar mais atentos, mais responsáveis, mais exigentes. Esta pode ser a única maneira de modificar a forma como nos vêm.
MANIFESTAÇÃO NACIONAL
BASTA DE ATROPELAMENTOS
Porto, 19 Janeiro 2013
15h00 – Av. dos Aliados
Pela convivência pacífica e respeito pelos modos suaves – Participa
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