Ontem eu era apenas um rapazinho que, nos meus oito verdes anos de idade, caminhava livremente por ruas cinzentas e silenciosas, numa manhã primaveril, encantado com o brilho clareado dos primeiros raios de sol. Lembro que se sentia alguma coisa, lembro-me porque aquele dia também me marcou muito, mas só mais tarde percebi porquê. Eu gostava da escola. Gostava de lá estar, aprendia a ler e a escrever, somar números e colorir desenhos em livros de páginas amareladas. Logo nas primeiras horas da manhã, a senhora professora saiu repentinamente da sala e colocou-me com outros colegas a tomar conta da turma. Regressou mais tarde com um nervosismo indisfarçável nas rugas do rosto e a voz apressada: “meninos podem sair para o recreio”! Lá fora ficava um dos lugares mágicos que o espírito da minha infância agora me trás de volta. Ali, nem tudo parecia tão alto e difícil de alcançar. Era um recinto de terra batida, onde brincávamos às corridas e às apanhadas, numa inocente meninice. Entre pontapés a uma bola rasgada, corridas desenfreadas e uma ou outra queda que nos sujava as batas, um muro separava-nos de outro mundo, outro recreio. Os meninos brincavam ali e as meninas do outro lado! Nessa idade o mundo era muito maior, muito mais haveria para conhecer e tanto para aprender. Nem imaginava que heróis caminhavam sobre a capital e não ouvia as vozes que eram libertadas das mordaças. Nessa idade eu prestava mais atenção à caixa de brinquedos e à minha guitarra de plástico, que recebera no Natal, do que a outras brincadeiras mais sérias. O intervalo no recreio já ia bastante demorado quando a senhora professora, com uma visível expressão de preocupação, diria mesmo de medo, chamou todos os meninos para a sala e saiu porta fora com um desavergonhado adeus, sem a preocupação se teríamos alguém que nos fosse buscar. Eu não compreendia nada do que se estava a passar e ninguém me explicava! Imagino que nem os adultos sabiam o que se passava e o que deveriam fazer. Na rua, todos corriam de um lado para o outro, apressados, assustados e no entanto reparava-se que havia ali um brilho diferente no olhar. Uma canção conhecida de todos tocava nas suas cabeças, murmuravam-se poesias nas gargantas e todas elas rimavam com o mesmo sentimento, com a liberdade. E depois do adeus da velha senhora voltei à mesma escola, ao mesmo mundo, mas para um amanhã diferente, para um sorriso simpático e mais colorido da nova senhora professora.
“A liberdade é o espaço que a felicidade precisa”
Azeituna – E Depois do Adeus
>Precisamente porque a liberdade é o espaço que a felicidade precisa, ando a descompasso no 25 de Abril.Perdi, durante muitos anos, tanto da minha liberdade e da minha felicidade!!!!
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>lá, ó faxabôre…Na fila de baixo és o segundo a contar da direita 😀 Beijinho
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>Fila do meio, segundo a contar da direita :-pBeijo, beijo!
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>Nesse dia não fui à escola. As notícias souberam-se antes de ir para as aulas, mas também não percebi porquê, embora a minha mãe me tivesse dito que tinha havido uma revolução e que, por isso, tinha medo de me deixar ir.Lembro-me que fiquei como se fosse noite de Natal, à espera dos presentes, num alvoroço expectante não sei bem de quê.Quanto à foto: vou arriscar 2 hipóteses, tentando abstrair dos palpites anteriores: O da franjinha, agarrado à professora, ou o 4º a contar da direita, na última fila (nem sei porquê, mas ’tá bem…)
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>Vou revelar o inigma.Escola da Portelinha.Turma da 1ª classe (1º ano )Fila do meio 2º a cntar da direita.Que saudades.Um abraço
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>Paulo, sem dúvida! ‘A Liberdade é mesmo o espaço que a felicidade precisa’ ..ai, como as(os) nossas mestre-escola nos influenciaram! tive uma querida velhinha até à 3ª classe era ‘regente’, depois, na 4ª classe uma ‘oficial’ que era uma peste!Obrigada por todas estas partilhas, aqui tenho estado a ‘lê-lo’, todo o atraso que ainda não tinha visto … a ternura das ‘Doces Lembranças’ e da homenagem a ‘Nanda’ emocionaram-me… tenho andado pouco presente 😦 desculpa.Obrigª p’las palavras :)bom fim-de-semanaum grande abraço e o meu sorriso (de sempre) :)mariamobrgª p’las palavras 🙂
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>Tens que me dizer o que é que andas a tomar, para te conseguires lembrar com tanto pormenor,de coisas de há 34 anos atrás!!! eu não me lembro de nada disto…Tú és aquele puto da segunda fila (2º da direita) Abraço, e VIVA A LIBERDADE, mesmo que ainda algo condicionada nos tempos de hoje.
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>Pois andei eu aqui no teu blogue a arrepanhar as fotos todas que aqui havia tuas e de que eu me lembrava; Ia dizer o mesmo que o teu mano, pá!
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>Estas fotos são adoráveis !Bj,(i)
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>Olá!Pois eu faltei ao jantar( não te conheço)…mas vou dizer que és o 2º a contar da esq na fila do meio :=9ehehehbeijocas
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>Lá …. faxabôre…Fui procurar a montagem dos gatos na árvore e não há dúvida nenhuma és o puto giro que está na segunda fila.Um dia inesquecível, nos meus 17 anitos e já com alguns contactos com movimentos pró-revolução foi um dia que foi vivido com muita ansiedade… e esperança.Obrigado pela “flor” :)Bjs e um óptimo fim-de-semana
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>Sem dúvida! És o 2º a contar da direita na fila do meio. Beijinhos
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>o que está com a mãp da professora em cima do ombro….”A liberdade é o espaço que a felicidade precisa”adorável!!
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>Grande professora essa! Fugiu da escola e deixou-vos lá? Cheira-me que deve ter sido saneada… :)Estava na dúvida, entre o 5º menino ou o 2º da fila do meio, contando da direita! Mas depois de ler os comentários, já percebi qual és…Beijoca!
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>Sinceramente não tenho grandes recordações desse dia, mas acho que incluiram sesta, brincadeira e tentar não me espalhar enquanto andava…Abraço!
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>Sim senhor, eu sou aquele puto baixinho, o 2º a contar da direita na fila do meio. Também não é novidade para quem acertou, pois já me conhecem há muito tempo e não estou assim tão diferente!Boa Semana para todos.
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>cheguei atrasada mas a tempo de ver a tua carinha laroca!O dia lembro-me perfeitamente, tomara com 15 anitos! P.s. à senhora do blog, “não estás esquecida”, beijo grande para vocês
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>Oh que querido!Este era o tal colégio que detestavas?
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>Não Patti, passei o dia da liberdade na escola primária perto de casa. No ano seguinte fui frequentar a 3ª classe no colégio onde fiquei até ao 9º ano de escolaridade. Quando saí de lá já fazia parte da mobília.
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>Inês, a senhora do blogue agradece e retribui com um beijinho grande.
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>Que escola era essa?
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